Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


MEMÓRIA DE LISBOA
Rómulo de Carvalho
Relógio d’Água

Este livro editado há 9 anos e ao qual fiz referência nessa data, tendo publicado depois um artigo na Revista na revista Lisboa Unforgettable, não podia deixar de figurar neste espaço a que, com total consciência do que tal significa, chamo AMOR PELOS LIVROS. Merece-o o livro e o seu autor, o meu querido Professor Rómulo de Carvalho, que no Liceu Pedro Nunes foi também o director da Estação Emissora que funcionava em Onda Curta e onde nasceu certamente o meu entusiasmo pela Rádio, parcela importante da minha vida profissional. O professor que os seus alunos não mais esquecerão, pela forma esclarecida como ensinava, foi para além do mestre que nos deixou inigualáveis textos pedagógicos e didácticos, uma figura eminente da cultura portuguesa, da ciência e da sua divulgação, da novelística, do ensaio literário e da poesia que todos conhecem neste país. Os poemas que escrevia sob o pseudónimo de António Gedeão fizeram história nas inspiradas vozes de muitos intérpretes da canção, sobretudo de intervenção mas não só. Não me cansaria de falar aqui sobre ele, sobre a ternura com que tratava os seus alunos, a forma como passados alguns anos, em resposta a um convite que eu lhe fizera para o lançamento de um dos meus livros, me dirigiu algumas palavras de uma homenagem que eu não merecia mas reveladoras dessa proverbial ternura. Mas vamos então ao seu Livro que aqui quero deixar. O poeta, cantado e amado, conhecia Lisboa e, sem muitos de nós o sabermos, fixava-a pela objectiva da sua máquina fotográfica. Quando partiu – e sempre que um poeta morre (diz-se), nasce no céu uma estrela - deixou-nos, entre os seus trabalhos inéditos, um conjunto de milhares de imagens recolhidas nas décadas de setenta e oitenta, acompanhadas de textos onde, na sua excelente caligrafia, faz uma análise cuidada dos motivos ou lugares, descrevendo também muito da vida urbana e social desses tempos.
Sabemos como a memória das grandes cidades está escrita nos seus monumentos e museus, descrita nos livros dos que sobre ela escreveram ou a ela se referiram, ao longo dos tempos em que por ventura a amaram ou nela simplesmente viveram e em qualquer espaço deram largas à sua imaginação criadora. Está também em gravuras e fotografias dos tempos idos que alguns vão recordando ou sobre elas se debruçam para saber como era ou o que resta ainda da cidade que foi antes deles. E é isso que acontece em Memória de Lisboa. Repare-se nas diversas imagens que são símbolo de Lisboa, figurando nos mais variados locais, aqui e ali, na calçada, nos brasões, nas paredes e candeeiros, os mesmos que fixados pelos olhos do poeta, merecem, com texto manuscrito, honras de primeira página neste livro de cerca de 400.
Se existem aspectos que permanecem, outros transformaram-se e adaptaram-se aos dias de hoje. Mas, mesmo assim, algo permanece. Comparemos as imagens deixadas por Rómulo de Carvalho com as de hoje: R. Augusta, Chiado, Casa dos Bicos, o romântico Jardim das Amoreiras, o Aqueduto ou o Elevador de Santa Justa.
E esta lista representa apenas um exemplo para poder admirar ao mesmo tempo como foi Lisboa e como é actualmente. Não esquecendo monumentos e estátuas, pátios e casas típicas, em fotografias pormenorizadas que enriquece com os seus textos descritivos, plenos de curiosidades e conhecimentos históricos, o autor deixou-nos de facto a memória de Lisboa. É evidente que a cidade acompanhou a vida moderna e se tornou porventura mais agradável e confortável para o visitante. Mas ele encontra ainda os encantos de outrora, a mesma cor e animação, a mesma beleza e luz, que – essas – permanecem no tempo. Lá em cima, da sua estrela onde o poeta nos contempla, Rómulo de Carvalho sorri. Obrigado querido Professor pela Memória de Lisboa.

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RÓMULO DE CARVALHO - SER PROFESSOR
Nuno Crato
Gradiva
Um livro onde um antigo aluno, tal como eu, do Professor Rómulo de Carvalho, resolve falar dessa grande figura do ensino em Portugal, divulgador da Ciência da pedagogia, autor de manuais escolares, historiador e poeta, teria sempre aqui o seu lugar. E tratando-se de Nuno Crato, insigne matemático e também figura ilustre do actual panorama científico nacional, o destaque é duplamente merecido.
Nuno Crato reúne neste livro uma série de textos pedagógicos dos muitos que Rómulo de Carvalho nos deixou, dispersos em várias publicações de difusão limitada e que mantém uma notável actualidade, nomeadamente focando o que Rómulo de Carvalho pensava sobre a organização das aulas e a forma de ensinar, mas ainda sobre o modo como despertar nos jovens o seu interesse pela ciência. Certamente também pela experiência que com ele viveu como aluno, Nuno Crato soube encontrar o que de mais representativo do pensamento do professor-poeta havia necessidade de tornar acessível ao público leitor que embora reconhecendo o valor de “Rómulo de Carvalho-António Gedeão”, andaria mais afastado das enormes qualidades desse grande pensador e do seu lugar no património cultural português. A data do seu nascimento, 24 de Novembro de 1906, marca o Dia Nacional da Cultura Científica e é festejada em todo o país.

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HISTÓRIA DE PORTUGAL
Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa
Nuno Gonçalo Monteiro
A Esfera dos Livros

Com a idade que tenho (vai muito longe o tempo em que aprendi a História de Portugal sentado uma carteira da Escola Primária de Campo de Ourique e também o tempo da cadeira de História no Liceu Pedro Nunes) certamente que passaram por mim e pela leitura que sempre esteve presente nas minhas horas vagas e de lazer os mais variados volumes sobre a História de Portugal. Relembro até e vejo-as numa das divisões de minha casa, as várias edições em vários volumes, da autoria de personalidades consagradas nesta área e que, compreenda-se, funcionam mais como obras de consulta. Igualmente, como é natural, os consultei, folheando por onde desejava aprofundar qualquer assunto. Não é portanto em relação a estes volumes, que vou fazer qualquer referência de comparação com a obra da responsabilidade de Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Monteiro, professores universitários da nova geração de historiadores, que acaba de ser editada pela Esfera dos Livros. Mas ao lado das restantes – e são várias – que nos apresentaram com certa dignidade o caminho da nossa História ao longo de quase um milénio, esta que acabo de analisar - pois difícil seria ler as 777 páginas no tempo disponível – tenho que afirmar com total convicção que se trata de uma obra ímpar no panorama literário e cultural em língua portuguesa. Pela primeira vez, é possível acompanhar a História de Portugal, desde a Idade Média até aos nossos dias, com toda a sequência de episódios que todos mais ou menos conhecemos, de uma forma que ousaríamos chamar de romanceada. Apesar de os autores terem feito naturalmente um esforço de síntese não pretenderam levá-lo ao extremo de esquecer, como alguns historiadores que os antecederam, o que era primordial e antes pelo contrário quiseram sobretudo torná-lo mais claro para o leitor. Esclarecer de modo a dar o conhecimento preciso. E conseguiram fazê-lo de modo tão eficiente e de certo modo sábio que o leitor fica de facto preso ao que – e mais uma vez o dizemos – ousamos chamar de romance histórico. Em alguns dos capítulos revisitei figuras conhecidas da nossa História e fiquei ao mesmo tempo admirado com as revelações de algo que nunca me tinha sido dado descortinar mas também desejoso de continuar a leitura e saber o que se passou na sequência desses factos. Que me perdoem se a ignorância era minha mas nunca qualquer obra nesta matéria me soube cativar como esta agora ao nosso dispor. E numa última ousadia deixaria aqui um desejo. Claro que nunca uma obra como esta poderia fazer parte dos manuais escolares (e não será o caso dos universitários da respectiva licenciatura) mas talvez fosse possível elaborar o de História de Portugal seguindo idêntico processo de a contar aos alunos de modo a torná-la interessante e cativante. Seria um meio de aumentar o nível de cultura dos nossos jovens que tão afastado anda do que se desejaria para um futuro mais promissor.

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O CRIADOR DE LETRAS
Pedro Foyos
Editorial Hespéria

Está mais do que demonstrada a importância da escrita na história da civilização. Considerados pelos historiadores os criadores da nossa escrita num alfabeto baseado em fonogramas, os fenícios e a sua civilização têm sido objecto do estudo de muitos historiadores que tentam trazer para o presente como eram, como viviam, o que pensavam, quais os seus mitos e lendas. Foi através de um enorme trabalho de investigação que Pedro Foyos escreveu o romance O CRIADOR DE LETRAS. Jornalista dos mais conceituados desta classe que desse modo a sabe honrar e a eleva ao que de mais complexo mas completo se pode exigir, ele concebeu uma obra que contém dados históricos do que se conhece acerca dos fenícios, dos mitos e lendas daquelas épocas, das crenças que satisfaziam as ansiedades daqueles tempos, os seus deuses implacáveis ou protectores, as trocas comerciais ou o desejo da descoberta além-mar, tudo enfim que o autor envolve numa ficção fascinante usando uma forma que cativa da primeira à última página. É sem dúvida um daqueles romances que não gostamos de interromper para recomeçar no dia seguinte, sempre ansiosos em conhecer o que Pedro Foyos nos vai revelar em seguida. O certo é que aprendemos muito como era natural que acontecesse num livro que se debruça sobre factos que infelizmente são pouco estudados e difundidos entre nós. E afinal, ali está uma hipótese inteligente de como pode ter sido a origem do alfabeto que usamos, baseado em sons que pronunciamos e com eles construímos as palavras e comunicamos. Assistimos à magia do espírito criador do personagem principal, o escriba a quem o Soberano de Byblos confiou a missão de inventar uma nova escrita, e é do seu raciocínio – ou do raciocínio do autor – que nascem uma a uma as 26 letras do nosso alfabeto. Sem que seja essa a intenção de Pedro Foyos, o leitor sente o fascínio de poder ser ele próprio a desvendar a letra que irá ser criada, de tal modo a construção é perfeita neste romance admirável. É também curiosa e extremamente interessante como algo que terá acontecido há mais de 3.000 anos, numa viagem às civilizações antiquíssimas do Próximo Oriente de que a cidade de Byblos, como aqui é descrita, se torna um símbolo das vivências religiosas e políticas de então, se pode confundir com muito do que hoje acontece à nossa volta. Intrigas e paixões políticas, ouro entregue aos soberanos tal como agora existem os impostos ao estado, dádivas e pagamentos aos sacerdotes dos deuses para destes alcançar os favores desejados (onde será que já ouvimos isto no presente?), tudo o que nos deixa mais uma vez aquela sensação que muitos gostariam de não acreditar: afinal o Homem não muda muito.
Juntemos ainda à forma como Pedro Foyos escreve este romance um certo aroma de escrita poética que nos torna ainda mais agradável a sua leitura. Existem portanto razões mais do que suficientes, embora muito mais ainda se pudesse dizer, para aconselhar a leitura d’O CRIADOR DE LETRAS que manterá um lugar de destaque neste meu AMOR PELOS LIVROS.


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O SÍMBOLO PERDIDO DESCODIFICADO
Simon Cox
Publicações Europa-América

Desde que O Código Da Vinci apareceu nos escaparates mundiais e se tornou rapidamente um best-seller, passámos a reconhecer no seu autor Dan Brown um enorme poder criativo não só pelo suspense dos enredos criados mas pela quantidade de simbolismos necessariamente enigmáticos que passavam desde aí a encher as suas obras. Apesar de em algumas das situações Dan Brown nos explicar por intermédio do professor Langdom, a personagem que elegeu para figura principal do seu romance, o que significavam determinados pormenores de conhecimentos científicos que para alguns leitores seriam novidade, muito ficava por explicar nem tal seria possível tal a quantidade de situações recheadas de simbólicas figuras e deduções filosofias ou religiosas. E é para resolver essa natural falha que o próprio Dave Brown não se dispunha naturalmente a fazer que aparece na sua peugada um segundo autor que viria a ganhar celebridade ao desmistificar e descodificar o que Dan Brown escrevera. Sem dúvida que as obras de Simon Cox, um investigador e famoso conferencista por vezes intitulado “o historiador do obscuro” aparece de facto em auxílio de todos os leitores que desejam saber mais sobre aquilo que Dave Brown apresenta nos seus romances. E achamos de facto, pese embora algumas críticas que nos absteremos de classificar, que muito ficamos a ganhar para conhecer até onde irá a fantasia de Dan Brown nos seus códigos e símbolos e o que existirá de verdade. Sem dúvida que qualquer dos dois autores se rodeou, cada um na sua função, de um número quase inesgotável de fontes históricas e até mesmo científicas para concluir a sua obra. Nós diremos então muito simplesmente que se completam. Ficamos certamente a ganhar ao ler um romance como o que está colocado mesmo antes desta referência, mais abaixo, “O Símbolo Perdido” de Dan Brown, como ficaremos igualmente a ganhar ao completar os nossos conhecimentos com as explicações que Simon Cox nos fornece em o “O SÍMBOLO PERDIDO DESCODIFICADO”. Tal como já fizera nos anteriores, com O Código Da Vinci e Anjos e Demónios, Simon Cox veio desta vez guiar-nos no decifrar dos mistérios da Maçonaria e dos seus símbolos e rituais que Dan Brown nos apresenta envolvidos de certa nebulosidade própria de um romance de ficção. Mas com Simon Cox, o historiador, o leitor de Dan Brown vai descobrir as respostas que este romancista não nos quis dar, nem era essa a sua intenção, no seu empolgante romance.

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