Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


A CRIAÇÃO
E.O. Wilson
Gradiva

É interessante encontrar um dos mais eminentes Biólogos da actualidade, defensor incontestável das teorias evolucionistas que defende com grande convicção a ideia de que elas não são na sua essência contrárias à existência de uma qualquer religião. Este facto não é muito vulgar, apesar de não constituir uma excepção à regra. Criacionistas e evolucionistas sempre se têm defrontado nos areópagos de várias conferências, parecendo irreconciliáveis as duas ideias. O Professor de Harvard, laureado com uma notável colecção de prémios e de distinções por todo o mundo científico, escreveu há já alguns anos um livro que então foi editado entre nós em que faz um apelo para salvar a vida na Terra. O livro voltou recentemente a ser falado, talvez motivado pelas recentes comemorações que assinalaram em todo o mundo a 1ª edição d’A Origem das Espécies de Charles Darwin e do bicentenário do seu nascimento. Wilson é naturalmente um darwinista e a sua intenção nesta obra, ao demonstrar a evidência da teoria da evolução, defende que não podem ser as fronteiras entre a religião e o ateísmo que podem obstar a que lado a lado não possam lutar ambos os seus seguidores pela conservação da biodiversidade neste planeta que é afinal o único que temos para viver. O livro é escrito numa espécie de conversa do autor com um pastor religioso. Em cada um dos capítulos, abordando temas e teses importantes para a explicação da existência da vida, desde a formação das primeiras moléculas até ao aparecimento do Homo Sapiens, ele principia sempre dirigindo-se ao seu convidado, o pastor católico, colocando-se igualmente ao seu lado e no seu oposto para concluir que alguns dos principais problemas com que a humanidade se debate nos dias de hoje poderiam ser resolvidos se fosse conseguida uma espécie de aliança, onde fossem respeitados os princípios básicos de cada uma das partes, mas lutando por um objectivo comum. A ciência e a religião podem conciliar-se nesta finalidade, mas a Criação de E. O. Wilson deve ser igualmente lida por todos aqueles que desejam aprofundar os seus conhecimentos sobre aspectos menos conhecidos da Biologia, como apareceram e se formaram as diversas espécies, as que desapareceram e as que estão em perigo de desaparecer, tudo enfim que nos pode levar a repensar ou confirmar a certeza de que algo pode e deve ser feito para salvar a vida na Terra. Segundo ele e com facilidade o demonstra, se eliminássemos todos as inúmeras espécies de insectos – e muitas desaparecem diariamente – seria o suficiente para que o resto da vida e da humanidade desaparecessem da face da Terra. Será que ainda pode existir alguém que duvide disso?

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