Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


MANÍACOS DE QUALIDADE
Joana Amaral Dias
A Esfera dos Livros

“Portugueses célebres na consulta com uma psicóloga” é o subtítulo deste livro que justifica de imediato o porquê de existirem maníacos de qualidade. Eles são então célebres e portanto é suposto neles existir qualquer espécie de qualidade, seja ela cultural, política ou social. Mas ao mesmo tempo neles existem ou melhor foram reconhecidos no seu tempo pequenos ou grandes distúrbios mentais, levando uma vida que muitos analisaram e apelidaram das mais diversas formas. Joana Amaral Dias, figura mediática bem conhecida, licenciada em Psicologia Clínica, docente e terapeuta familiar, com vastos conhecimentos adquiridos pela sua experiência e pela presença assídua nos areópagos da especialidade, resolveu debruçar-se sobre a vida de alguns portugueses que entraram em diversos ramos da nossa história. De todos eles, desde D.Afonso VI(dado como louco), Marquês de Pombal (um obsecado ou desequilibrado) ou a Rainha D. Maria I (considerada doida), mas também Fernando Pessoa (preocupado com a sua sanidade mental), Antero de Quental(que se suicidou) e João César Monteiro (o cineasta excêntrico), alguma coisa portanto sabíamos sobre o seu comportamento mais ou menos estranho. Menos conhecidos como portugueses célebres seriam Ângelo de Lima e António Gancho. Perante uma lista considerável de grandes vultos da nossa história com assinaláveis perturbações psíquicas ou como tal considerados e sentindo a necessidade de efectuar uma escolha que tivesse uma representatividade para a finalidade que se propunha neste seu livro, Joana Amaral Dias decidiu-se por dois critérios. Em primeiro lugar todos eles deveriam possuir “indícios fortes de grande sofrimento psíquico” mas o conjunto escolhido deveria também preencher a necessária “diversidade” que permitisse abranger um vasto leque de uma certa tipologia apelidada por uns de desvios de personalidade e por outros de verdadeira doença psíquica. A loucura é um tema recorrente na história da humanidade sendo até muito comum dizer-se que “de génio e de louco todo o mundo tem um pouco”. Seria natural portanto que figuras mais proeminentes ficassem também conhecidas pelos seus eventuais actos de uma certa loucura. E tudo isso seria igualmente uma classificação de terceiros. A investigação cuidada de Joana Amaral Dias vai mais longe e na impossibilidade de sentar num divã as personagens do livro baseia-se não só nos muitos documentos históricos mas também registos biográficos e mesmo auto-biográficos, diários, cartas, etc. É um trabalho muito honesto e tanto quanto possível correcto sobre a verdade do que foi dito e escrito mas sobretudo – e isso é importante – do que teria sido sentido pelos personagens que chamou para este livro. Em certos casos – e sempre que tal foi possível - eles aparecem mesmo num discurso directo quase parecendo que estamos a assistir a uma sessão de psicanálise. Quase nos permitimos dizer que a autora assim o entendeu de tal modo os vultos estudados nos aparecem nas páginas que oferece à nossa leitura. Nada foi ignorado - ou muito pouco - do que disseram terceiros, que pudesse ter importância para a análise feita. Digamos que esta obra se lê com a consciência de que ficamos mais conhecedores dos actuais conhecimentos sobre o que se passa no universo da mente humana apesar de Joana Amaral Dias nos afirmar que poderão existir alternativas às interpretações apresentadas. No entanto, quanto a nós, este estudo sobre alguns “Maníacos de Qualidade” que fazem parte da nossa História contribui firmemente para o nosso enriquecimento cultural. E por isso aconselhamos vivamente a sua leitura.

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