Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


NÃO PODEMOS VER O VENTO
Clara Pinto Correia
Clube do Autor

Em tempos num livro sobre “Portugal Animal” lançado no espaço mais que indicado do Zoo da Lisboa, Clara chamou-me na dedicatória do que me ofereceu “alma irmã com deslumbramentos gémeos”. De facto eu estava muito longe dos conhecimentos dela, tal como hoje. Abandonei a Biologia e dediquei-me ao Jornalismo onde acabei por ficar. Mas éramos e somos em muitos aspectos “almas gémeas” pela dedicação que temos à Natureza que nos rodeia, eu mais no aspecto do mundo animal ou vegetal e do meio ambiente, mas ela, muito mais importante também, noutros estudos onde a sua carreira de Bióloga que, por não lhe ter sido possível fazer investigação em Portugal, cedo a obrigou a partir para os Estados Unidos onde no Departamento de Ciências Animais e Veterinárias trabalhou com a mais avançada equipa de investigação sobre clonagem animal. Foi essa a base para o pós-doutoramento. E, ao voltar a Portugal, trazia consigo as luzes que vieram iluminar alguns cérebros que então se envolviam em debates inconsistentes. Tudo isso daria origem a um pequeno livro cheio de respostas às perguntas mais pertinentes ao qual, desafiando os incrédulos, deu o título corajoso de “Clonai e Multiplicai-vos”. Ela sabia do que estava a falar. E apenas desejava esclarecer, acabar com medos e terrores. Era a sua veia de lutadora e analista dos possíveis perigos ou virtudes que mais tarde ou mais cedo poderiam ser realidade. E alguns foram de facto. Mais as virtudes por enquanto do que os perigos, cremos nós.
Escreveu entretanto vários romances – e citando apenas alguns como o Adeus Princesa, Ponto Pé de Flor ou Os Mensageiros Secundários – todos eles grandes êxitos editoriais. Já nos Mensageiros ela enveredava acentuadamente por caminhos diferentes no domínio da Psicologia, o que agora se verifica mais uma vez. Digamos que é uma mulher de sucesso. Depois da Licenciatura em Biologia, doutorou-se em Biologia Celular. Cada vez mais interessada em entender as coisas mais íntimas do ser humano, viajou pela Ciência das Religiões e mais recentemente pela Filosofia da Ciência. Todo este percurso de conhecimentos vários e estudos sobre a matéria e a alma, haveria de culminar por agora numa obra em que consegue cruzar dois aspectos diferentes. Ao contar a história de Mariana, uma psicóloga, mãe de duas gémeas muito especiais, Clara Pinto Correia transforma o que poderia parecer apenas um romance, numa investigação que a personagem faz de aspectos obscuros do que se passou na Guerra Colonial, ao colocar nos diálogos apresentados verdadeiros depoimentos que a autora conseguiu sobre as mais estranhas missões do Exército Português em Moçambique, ainda hoje desconhecidos de muita gente sobretudo das camadas mais jovens. E isso já seria magnífico se não existisse ainda o encanto da sua escrita, ao mesmo tempo realista mas com traços de poesia que só quem conhece bem a C.P.C. pode compreender que não poderia deixar de o fazer. Ficamos presos do desenrolar desta história que nos é contada com a sua escrita fluida e até certo ponto “musical”, oferecendo de vez em quando diálogos onde acabam por ser desvendados os mais escondidos segredos do se passou nas estranhas guerrilhas com o inimigo e dos métodos utilizados pelo exército português. Mas tudo isso ficou e está agora no presente através dos traumas deixados dos que sobreviveram aos massacres de ambos os lados e vai lançar no desespero um dos outros personagens principais da história ao qual Mariana acabaria por ficar mais ligada. E, já que estamos no tempo da Net, C.P.C. estabelece que a relação entre os dois haveria de começar por uma troca de emails. Assistimos verdadeiramente interessados a esse desenrolar de cenas, por vezes desconcertantes e difíceis de acreditar. Afinal tudo o que ele diz terá sido mesmo verdade? Seria possível? Esta curiosidade só será satisfeita por quem ler esta excelente obra da minha alma gémea que em muito já me ultrapassou. Por isso mesmo a admiro e aconselho a leitura do seu último livro neste meu Amor Pelos Livros.

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