Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


DARWIN SEMPRE
A ORIGEM DAS ESPÉCIES
No ano que recentemente terminou em que se comemoraram os 200 anos do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação da primeira versão do seu livro “A Origem das Espécies”, realizaram-se por todo o mundo exposições, conferências, debates, artigos nas mais prestigiadas revistas, científicas ou não e a edição de novos livros sobre Darwin e a sua importância na história da Evolução e das Origens. Sem dúvida que “A Origem das Espécies” foi a sua obra mais polémica, até porque Darwin nas 6 edições que foram publicadas durante a sua vida estava constantemente a fazer correcções e alterações. Isso significava que a sua mente prodigiosa não se cansava de continuar um estudo que considerava importantíssimo sobre a evolução de todos os seres vivos. Apesar da primeira edição de 3.000 exemplares se ter esgotado no dia da sua publicação em Novembro de 1859, houve quem o louvasse e quem o odiasse de tal modo eram polémicas as suas ideias sobre o modo como evoluíam espécies e nomeadamente sobre a Origem do Homem, outra obra que publicaria depois e que se opunha globalmente às doutrinas divinas da criação, demonstrando que todos os mamíferos descendiam de um antepassado comum, possivelmente um pequeno roedor, dele se originando um ramo de primatas, onde um dos sub-ramos teria dado origem aos nossos antepassados. A nossa ideia em só agora colocar aqui algumas referências às edições mais significativas é precisamente a de afirmar que apesar de algumas novas interpretações, sobretudo no caso das descobertas em genética que vieram dar uma nova luz aos mistérios da evolução, defendemos que “Darwin ... Sempre”.



Em Portugal, foram duas as novas edições d’A Origem das Espécies, a primeira da Europa-América, aproveitando a passagem do seu 60º aniversário, numa tradução de Dora Batista e em Novembro a do Círculo de Leitores da responsabilidade de Vítor Guerreiro. De qualquer modo, ambas respeitam a essência fundamental da última edição revista por Darwin.
Trata-se de uma obra que não devemos deixar de ler e sobre ela meditar, embora à luz de modernas descobertas científicas. É que o seu trabalho foi de tal modo importante e resultado de um esforço e investigação nesta matéria, tão raros naquele tempo, que continua a ser uma lição e um rumo para quem pretenda conhecer o caminho que as espécies percorreram até alcançarem o que são hoje e sobretudo longe da ideia cri accionista de terem sido obras de uma qualquer divindade.
Tendo-se formado em Medicina e Teologia, parte com 22 anos a bordo do Beagle, uma pequena embarcação da época, para fazer companhia ao capitão Fitzroy, fugindo de certo modo à vida clerical que seu Pai lhe havia destinado. Durante 5 anos percorreu os cinco continentes e nas diversas expedições em terra não se cansava de anotar observações nos seus papéis e recolher numerosas amostras de animais e plantas que enviava para sua casa ou para biólogos e geólogos que conhecia. Tudo o fascinava e questionava-se sobre a enorme diversidade de espécies vivas que em muitos casos e em locais diferentes apareciam com certo número de variações. Ficou célebre a passagem pelas Ilhas Galápagos onde notou precisamente essa variedade de uma ou outra espécie, entre uma e outra ilha, apesar de apenas separadas por um manto de água. Por que razão aconteceria tal facto? É tudo isso que mais tarde irá resolver no seu regresso à casa de campo transformada em Laboratório. Numa admirável dedicação ao desvendar dos segredos da Natureza e do Homem, é aí que começa a reunir todos os seus apontamentos que viriam a dar origem a todas as suas obras.


Reproduzimos também aqui, como curiosidade, a capa do exemplar raro que possuímos da primeira edição em língua portuguesa d’A ORIGEM DAS ESPÉCIES, datada de 1913, pela Livraria Chardron de Lelo & Irmão.
Janet Browne, principal biógrafa de Charles Darwin, demonstra no seu mais recente livro, já traduzido para português, editado pela Gradiva (A Origem das Espécies de Charles Darwin) porque é que a Origem das Espécies pode ser considerado o maior livro de ciência alguma vez publicado.
“O mais humilde dos organismos é algo de mais elevado que a poeira inorgânica a nossos pés. E não há ninguém com espírito sem preconceitos que consiga estudar qualquer criatura viva, por mais humilde que seja, sem se deixar entusiasmar pela sua maravilhosa estrutura e propriedades”, escreveu Darwin.

Para ler excertos desta obra clique aqui