Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


A CASA DA SABEDORIA
Jonathan Lyons
Editorial Presença

O Autor conta a história da célebre Casa da Sabedoria, dos califas que a apoiaram e das pessoas que nela trabalharam, a um ritmo absorvente e vibrante. E de facto, é extraordinário como foi entre os árabes que nasceram as grandes descobertas científicas daquele tempo e que depois foram trazidas para o ocidente. Neste livro está bem patente que ao longo da época medieval, ao contrário do que acontecia na Europa, as mais variadas áreas da cultura, desde a filosofia à matemática e a astronomia eram estudadas e largamente desenvolvidas pelas mentes dos sábios islâmicos que não se cansavam de inovar e apresentar soluções para problemas que intrigavam a humanidade. Aproveitando-se de um célebre académico cristão, chamado Adelardo, que viajou largamente pelo Oriente com o propósito de aumentar os seus conhecimentos, o autor acompanha-nos numa viagem espantosa às fontes de sabedoria que se centravam naquelas paragens longínquas, nomeadamente a célebre Biblioteca real de Bagdad, conhecida de facto como a Casa da Sabedoria. Ali se reunia toda a vasta série de descobertas originadas no pensamento oriental. É notável como a língua árabe foi durante muito tempo aquela que permitia uma troca valiosíssima de saberes e obras primitivamente escritas em idiomas ocidentais eram de imediato traduzidas para o árabe. Não existe aqui, nem essa foi a ideia do autor qualquer aprovação dos desmandos de etnias radicais e fundamentalistas que hoje fervilham nessas regiões. É curioso, no mundo actual e na presente crise, que parecem ambas dividir o Oriente e o Ocidente, concluirmos que os povos do outro lado desta barricada que se tem formado entre um mundo e o outro, foram de facto os iniciadores de todo o conhecimento que depois foi desenvolvido deste lado em que nos situamos. E é pena que não exista a paz e entendimento suficiente para tentarmos viver, num respeito mútuo pelas tradições particulares de cada um, sem coarctar a liberdade e respeitando os mais elementares direitos humanos. Não fosse de facto a crise actual e as divisões a que estamos a assistir e seria com um prazer muito maior que aqui deixaria esta Casa da Sabedoria no meu Amor pelos Livros, lugar que de facto merece pela verdade que nos transmite e pelos ensinamentos valiosos que nos traz.

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