Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
Victor J. Katz
Fundação Calouste Gulbenkian

Longe de mim ter a pretensão de vir aqui “dissertar” sobre o conteúdo deste livro. Então porquê a sua inclusão neste espaço? O ensino da Matemática tem sido desde há vários anos objecto e tema para os mais variados debates e muitas das causas das fraquíssimas notas dos nossos alunos dos primeiros anos do ensino secundário nessa matéria foram sendo apresentadas como devidas ao fraco ou mesmo mau ensino da matemática. Foram nomeadas comissões de personalidades ligadas ao ensino, à ciência, filosofia, pedagogia e a muitos outros ramos do saber, inclusive da literatura, a fim de resolver essa situação. De um modo geral, a questão que acabava sempre por se colocar era o porquê da falta de interesse dos alunos pela Matemática. E muitos concordaram que seria necessário criar nos jovens uma apetência de carácter mais rigoroso do interesse que a Matemática sempre teve, tem e continuará a ter em quase todos os problemas do nosso dia-a-dia, qualquer que seja a ocupação ou a formação universitária. Ela está e estará sempre presente para resolver os problemas, tecnológicos ou não. Victor Katz, Doutorado em Matemática e professor emérito da Universidade de Colúmbia, dedicou-se à História da Matemática e sua utilização pedagógica, sendo autor de conceituados livros de estudo sobre as teorias da Matemática e de interessantes artigos nesse âmbito na Revista American Scientist. Victor Katz recebeu o Prémio Watson Davis da Sociedade de História da Ciência, por este seu livro agora traduzido por uma equipa de tradutores proposta pelo Prof. Nuno Crato, com revisão e uniformização do Prof. Jorge Nuno Silva do Departamento de História e Filosofia da Universidade de Lisboa. Esta obra preenche exactamente os fundamentos que presidem a criação pela Fundação Gulbenkian da sua colecção de Manuais Clássicos, destinados a auxiliar estudantes e professores que nem sempre conseguem encontrar as obras necessárias para o incentivo e auxílio nas matérias que pretendem estudar ou melhor compreender o seu alcance a nível social. O próprio Victor Katz escreve no prefácio que “o conhecimento de história da Matemática mostra aos estudantes que a matemática é um empreendimento humano importante. A Matemática não foi criada em forma polida com que aparece nos livros de texto, foi antes desenvolvida muitas vezes de forma intuitiva e experimental respondendo à necessidade de resolver problemas. A evolução dos conceitos matemáticos pode ser utilizada com sucesso na sensibilização e motivação dos estudantes de hoje.
Se outras razões não existissem isto bastaria para que esta obra pertencesse ao Amor pelos Livros mas existem outras razões. Pelo que já nos foi dado ler e apesar das restrições impostas pela formação profissional que não possuo nesta área, posso garantir que nas cerca de mil e cem páginas encontrei nos diversos capítulos em que a obra está dividida muita informação que para além de curiosa me ajuda a ter uma noção completamente diferente da própria História das diversas civilizações nas quais a Matemática teve sempre um papel importante. Desde escrita em plenas rochas, placas de argila ou papiros por cuidadosos escribas há milhares de anos antes de Cristo, é fantástico como ela presidia a muitas decisões que tinham de ser tomadas pelos soberanos ou sacerdotes para os mais variados fins. Era necessário calcular por exemplo o nº de operários ou de pães para os alimentar a fim de construir edificações, algumas das quais ainda hoje podemos admirar. E se isso foi por exemplo feito na Mesopotâmia 3.500 a.C. também foram encontrados registos nos famosos “ossos oráculo”, curiosos fragmentos de ossos com inscrições gravadas, datados de 1.700 a.C. na China, durante a dinastia Shang. Ficamos melhor informados de como foi sempre um problema de contagem a noção da matemática mais simples, desde por exemplo a conhecida anotação por barras sucessivas para representar números. Mas desde os primórdios que os chineses já usavam potências de 10 num sistema multiplicativo. A variedade é possível para qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos poder encontrar valiosas contribuições para os aumentar. Existem por exemplo dois capítulos dedicados à Astronomia e Matemática, Biografias de destacadas figuras em caixas separadas, tópicos especiais como por exemplo a discussão da influência egípcia na matemática grega. Encontramos a cada passo a explicação real de muitos probleminhas que nos são muitas vezes apresentados em jornais e revistas como curiosidades do mundo da matemática sob a forma de entretenimento. Quantas pessoas que conhecem livro de poemas Rubaiyat de Omar Khayyam, traduzido em quase todos os idiomas como uma das maravilhas da Poesia Persa, saberão que ele foi também um dos grandes matemáticos do seu tempo? Platão, o grande filósofo, discípulo de Sócrates, foi também um geómetra excepcional que ajudou a resolver pelo menos um problema, onde eram necessárias noções de cálculo, durante uma curiosa visita ao Egipto. Tratava-se por exemplo nessa época de saber como duplicar um cubo, isto é um cubo que tivesse o dobro do volume do original, Isto num tempo em que não se conhecia a operação de raiz cúbica nem tampouco de raíz quadrada. No tempo da civilização Inca, ainda sem qualquer linguagem escrita, já existia um sistema de numeração lógico fazendo os registos por meio cordas e nós. A obra também inclui um capítulo dedicado ao nosso grande matemático Pedro Nunes. E ao longo da História da Matemática também já nos tempos mais próximos se fala de alguém, o matemático Babbage, que foi segundo se julga o primeiro criador de uma máquina que viria dar a origem ao nosso computador actual. E naturalmente vem depois Alain Turing e por aí fora até aos dias de hoje. Portanto, creio que consegui demonstrar o interesse para todos os que desejarem ampliar os seus conhecimentos em ler algumas partes desta obra, sendo que outras serão efectivamente mais indicadas para estudantes e professores dessa matéria tão importante que é a Matemática.

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