A MEDICINA E AS MITOLOGIAS
Mitos antigos e modernos
Armando Moreno
Ed. Medilivro
A obra mais recente de Armando Moreno, o insigne Médico e Professor Catedrático da Universidade Técnica de Lisboa, vem acrescentar mais um trabalho à sua importante área de escritor a que igualmente se dedicou. Se é de realçar o seu curriculum médico nomeadamente na área da Ortopedia e respectiva cirurgia, com dezenas de trabalhos científicos e de investigação publicados, temos de salientar a sua extensa obra literária. E bastaria citar dois exemplos como O Mundo Fascinante da Medicina, em 12 volumes, e Médicos Escritores Portugueses de que foram feitos 12 episódios transmitidos pela RTP, onde também esteve presente noutras séries de programas, para ser de facto uma referência no meio médico nacional e internacional. A sua carreira de cirurgião ortopedista é bem conhecida pelas inovações criadas nesse domínio, em épocas onde eram raras tais intervenções com sucesso. Mas a sua bibliografia abrange também o romance, contos, poesia e teatro e vários ensaios literários. Conheço bem muitas das suas obras e têm um lugar seguro nas minhas estantes, amigos que somos, eu e o autor, diria mesmo mais do que amigos tão grande é a amizade que nos une, franca e leal. Mas mesmo que tal não acontecesse esta sua obra teria de ficar aqui “receitada”, já que de um médico-escritor se trata, ressalvando no entanto como ele próprio o diz na badana da capa que nela “o leitor não encontra descrições de patologias, muito menos de terapêutica”. A Medicina e as Mitologias é o resultado evidente dos seus conhecimentos na área da Medicina e de um exaustivo trabalho de pesquisa nos mitos da História Antiga e Moderna. O autor extrai da comparação entre o mito e o pormenor existente na realidade médica a sua conclusão lógica. A excelência dos comentários com que finaliza a sua análise, seja ela médica ou simplesmente social, é bem demonstrativa da personalidade do autor. Exímio na escrita como o foi na medicina, onde foi galardoado com prémios internacionais pelas suas intervenções, Armando Moreno não deixa de nos surpreender, aliando ao vértice da exactidão histórica a transposição para preocupações actuais de carácter humanístico e social. Dir-se-ia que estamos muitas vezes perante um historiador e um crítico. Como ele próprio afirma na Introdução “a finalidade dos Comentários, a propósito de cada Mito e de cada área médica, consiste, antes de tudo, em trazer para a modernidade os Mitos que, sendo representantes da tradição popular, se encontram, em muitos casos, vivos entre nós. Como interpretar nos nossos dias o Mito da Pandora? Que significado pode assumir o mito de Prometeu na vida moderna?” De facto, é na descrição e na sua análise que vamos surpreender-nos com temas e factos que estariam esquecidos por muitos de nós ou mesmo nos seriam totalmente desconhecidos. Se quase todos sabem o que significa o Calcanhar de Aquiles, onde se situa esse órgão no corpo humano e quem foi Aquiles, muitos não conhecerão porque era frágil aquela parte quase escondida do nosso pé. E também serão muitos os leitores que desconhecem a relação entre Poirot e a Anatomia do Pâncreas. São mais de 3 centenas de mitos que se estendem pelas Mitologias Clássica, Celta, Nórdica, Egípcia, Árabe e outras, como ainda ao culto mariano e santos populares que se estendem pelos 6 capítulos em que a obra está dividida abrangendo a Anatomia, Fisiologia, Cirurgia e outras especialidades médicas, assim como temas relacionados com a saúde.
De salientar ainda as muitas reproduções a cores de grandes obras da Pintura Universal, ilustrando naturalmente alguns dos mitos. Haveria muito mais razões para justificar a presença d’ “A Medicina e as Mitologias” e do seu autor Armando Moreno neste espaço de Amor pelos Livros. Na impossibilidade de enumerá-las todas resta-me a esperança de que, por falta do meu engenho, a análise simples que aqui faço seja suficiente para despertar o interesse dos leitores. Este livro tem ainda uma característica importante nos dias de hoje: é a possibilidade de o ir lendo de vez em quando, conforme a nossa disponibilidade de tempo, sem o perigo de perder a continuidade necessária numa história ou no enredo de um romance. Isto, embora estando cientes de que o entusiasmo pela novidade e pelo que vamos aprendendo nas mais de 400 páginas nos levará bem depressa a chegar ao seu termo.
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