Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


A PAIXÃO DE JANE EYRE
Charlotte Brontë
Publicações Europa-América

Na sua Colecção Clássicos da Europa-América estão publicadas, tal como refere a própria editora, “aquelas obras que ultrapassam o ordálio temporal e que são hoje património da Humanidade”. Se a irmã, Emily Brontë, se tornou mais conhecida principalmente pelo seu romance “O Monte dos Vendavais” que igualmente foi transportado para a 7ª Arte, Charlotte foi a sensação do seu tempo ao lançar para o público A Paixão de Jane Eyre que foi de imediato bem recebido e consagrado naquela época. Estávamos em 1847 e a crítica dividiu-se. Ou melhor, reconhecendo-se embora que as duas irmãs eram escritoras de génio indiscutível, a personagem Jane Eyre de Charlotte é uma figura que pela primeira vez resolve impor os direitos de independência da mulher que estavam muito limitados pela sociedade inglesa do seu tempo. Mas há dois aspectos que nem todos conhecem. Existe uma relação muito forte entre a vida da própria Charlotte e a personagem Jane do seu livro. Ambas viveram o drama do asilo e de um certo abandono familiar. Este e outros aspectos focados no seu livro são de facto autobiográficos. Charlotte viveu precocemente o que nos descreve e não devemos esquecer que a obra está escrita em forma de diário. São de facto muitas das suas recordações pessoais que ela nos conta. Jane e Charlotte são verdadeiramente umas lutadoras pelos seus mais puros ideais. Naturalmente que ao colocar aqui este clássico da literatura, os leitores mais jovens poderão interrogar-se sobre o interesse do tema e a forma como é descrita a acção da obra. Mas é necessário compreender que muitas das grandes obras da literatura mundial valem pela forma como foram escritas na época em que foram editadas mas sobretudo por nos transportarem aos valores que dominavam esses tempos vividos pelos respectivos autores. E isso é Cultura, infelizmente muito maltratada e até esquecida no mundo actual, preocupados que andamos com o estado a que chegou o desentendimento entre os povos e o desrespeito pelos valores humanitários, para não citar outras razões e factos. Este livro que foi lido e relido pelos jovens que hoje são adultos na casa dos 70/80, pode tornar-se uma forma de revisitar outros tempos, relembrar a própria História Mundial, mesmo assim não muito longe da actualidade, em que estes romances e outros do mesmo género foram as leituras preferidas. Estou portanto à vontade pela sua colocação nesta galeria do meu Amor pelos Livros para, como outros que a seu tempo, se a vida mo conceder, aqui ficarão também. Jane Eyre, cuja infância fora bastante infeliz, consegue subir pela sua força de autocontrolo, lutando contra a adversidade e sempre com a plena consciência de que haveria de encontrar o que ansiosamente procurava. É esta luta que sobressai na sua história e que Charlote Brontë descreve em toda a plenitude do seu génio literário. Foi bem-vinda esta reedição e vivamente aconselhamos a sua leitura a quem porventura não a tenha lido ou que a releiam aqueles para quem esta obra foi uma das suas preferidas em tempos passados.

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