O CADERNO - 2
José Saramago
Editorial Caminho
Esta colectânea dos textos escritos por Saramago no seu blog entre Março e Novembro de 2009 mais uma vez confirmam o que já tinha dito em relação ao seu Caderno editado 1 ano antes com aqueles que marcaram o início da sua adesão à blogosfera em Setembro de 2008. Aliás ele transferiu precisamente para este suporte as crónicas, críticas e análises do quotidiano que tinha iniciado nos seus Cadernos de Lanzarote quando para ali se mudou na sequência da censura ao livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo para o Prémio Europeu da Literatura. Lembremos que ele próprio confessava então tratar-se de uma espécie de Diário que tinha prometido escrever num caderno de papel reciclado que para o efeito lhe tinha sido oferecido numa visita dos seus cunhados María e Javier. E assim foi de facto. O escritor passou a transmitir para o papel as suas preocupações, mesmo as mais íntimas, dando-nos a oportunidade para o conhecer ainda melhor, fora da grande criatividade dos seus romances mais que consagrados, todos eles conduzindo afinal ao desfecho evidente de alcançar em 1998 o Prémio Nobel da Literatura. Mas debruçando-me mais sobre este segundo Caderno, confesso ainda maior admiração que aquela que já sentia pelo Homem Saramago. Com uma simplicidade extraordinária, o grande escritor despe as suas mais características vestes literárias para com a mesma clareza de princípios humanísticos nos oferecer o teor das preocupações que afinal todos deveriam sentir nesta aldeia global em que estamos a passar os nossos dias. Acreditem os que eventualmente me estão a ler que desejo declarar com toda a humildade possível que eu próprio me senti desejoso de assinar por debaixo de cada um daqueles textos diários. Que me desculpem portanto a ousadia. Claro que muitos dos casos referidos e que foram primitivamente colocados no seu blog não poderiam estar no meu pensamento. O que pretendo dizer é que de tal modo me impressionaram que eu desejaria tê-los pensado e isso é quanto basta para sentir o enorme prazer de os descobrir nesta leitura de um Saramago, extremamente humano e totalmente longe daquela figura que tantas vezes é injustamente atacada. E isso principalmente porque ele tem a coragem de expor as suas ideias pouco concordantes com as dos seus inimigos políticos e religiosos. Claro que também aqui ele não deixa de as revelar com a mesma ou ainda maior honestidade com que sempre o faz. Também aqui se revolta contra a opressão, a tortura, a burguesia corrupta e a mesquinhez, as ditaduras de toda a espécie que pululam em várias partes do globo, enfim tudo aquilo que contraria os direitos do homem e a liberdade. E também aparecem as suas críticas a uma religião que não respeita ela própria aquilo que diz defender. Mas a força principal do Caderno de Saramago reside - e não me canso de o repetir - na grandeza dos princípios que defende e que Umberto Eco muito bem define no prefácio que escreveu para a edição italiana: “ eu diria que nestes breves escritos Saramago continua a fazer a experiência do mundo tal como ele é, para depois o rever a uma distância mais serena, sob a forma de moralidade poética (e às vezes pior do que é – embora pareça impossível ir mais longe)” … “para não falar (e eis o retorno aos grandes temas da sua narrativa) de quando da análise do quotidiano salta para os grandes problemas metafísicos, para a realidade e a aparência, para a natureza da esperança, para como são as coisas quando não estamos a olhar para elas.” Que razões mais necessitaria eu para colocar o Caderno de Saramago no meu Amor Pelos Livros?
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