O PRINCIPEZINHO
Antoine de Saint- Exupéry
MHIJ Editores
Este é um dos livros que não agrada apenas aos mais novos por ficarem encantados com a história daquele Principezinho que aparece ao autor em pleno deserto dizendo ter vindo de um asteróide para saber como se vive na Terra. E passamos a assistir a um diálogo em que ele conta o que já lhe aconteceu, interrogando-o sobre o significado de muito do que já tinha observado e que não conseguira compreender. Saint-Exupéry vai tentando explicar-lhe o que sabe e o que imagina saber, pois nem todas as perguntas têm uma resposta lógica para o Principezinho. Aliás o pequenino herói também lhe conta muito do que se passa lá por cima no seu e noutros asteróides que também visitou. Ao reler agora este livro ou escutá-lo em CD pela voz de Pedro Granger num audiolivro, teremos de nos esquecer que para os dias de hoje, quando o homem já viaja em sofisticadas naves espaciais que lhe dão a conhecer o espaço extra-terrestre, a história poderia parecer não ter sentido. Mas Saint-Exupéry foi no seu tempo muito mais além do verdadeiro sentido das coisas e dos homens do seu tempo. Humanista por formação, este homem que também foi aviador que viveu na realidade aventuras várias tocando em muitos pontos do globo, tendo aliás desaparecido na sequência de um estranho desastre nunca completamente esclarecido e muitas vezes envolvido nas mais curiosas experiências, delicia-nos nas páginas desta obra com extraordinárias conclusões sobre a humanidade e de como o homem que a integra pode ou não reagir. E de facto, acabo por concluir que muita coisa de que não me apercebi neste livro que li na minha infância, me aparece agora com grande evidência, demonstrando um autor que tinha muito mais para dar no seu Principezinho do que apenas uma história infantil. Afinal sempre é verdade que “«Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos...». Como em muitas das suas outras obras que nos deixou, Saint-Exupéry também aqui não deixa de fazer o seu apelo a uma união de todos os homens, independentemente da sua raça, religião ou idioma. E a sua intenção era sem dúvida que, ao ler o seu livro, os jovens aprendessem a sentir e a defender desde pequenos esses valores tão importantes e cada vez mais nos dias que actualmente vivemos. O valor supremo da solidariedade está bem patente ao afirmar: “«Quando nos deixamos prender a alguém, arriscamo-nos a chorar de vez em quando...». E como gostei de voltar a sentir-me criança e ao mesmo tempo absorver muito do que outrora não me apercebi mas que talvez – e humildemente o digo – tenha influenciado a minha formação, saúdo esta nova edição e faço votos para que seja lida por todos, sobretudo os mais jovens, alheados de boas leituras, contribuindo afinal para conseguir um futuro que desejamos mas que infelizmente ainda não soubemos criar. A esperança é a última coisa a morrer. Isso sabemos. E apesar de tudo o que se espelha hoje à minha volta, ainda resiste em mim. Não pretendo com isto dizer que não existam autores na literatura infantil actual que defendem princípios iguais mas o Principezinho de Saint-Exupéry é um verdadeiro clássico que merece conservar o seu lugar no nosso tempo.
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