Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


O SOLISTA
Steve Lopez
Estrela Polar

Já na década de sessenta, quando pela primeira vez visitei Nova Iorque, eu ficara espantado por notar que em algumas das ruas não muito afastadas do centro da cidade também existiam pedintes e mesmo alguns dos chamados “sem abrigo”, tal como no nosso país. Tempos depois, o mesmo iria notar em Londres e noutras grandes capitais dos países considerados ricos. Afinal a riqueza por essas bandas também não era bem distribuída. Vi os “sem abrigo” em Munich e em Berlim, aproveitando as entradas de certos edifícios fechados durante a noite, para ali dormitarem envolvidos em cartonagens. Um jornalista do Los Angeles Times começa por encontrar um motivo para as suas crónicas no Jornal ao cruzar-se à entrada de um túnel movimentado com um estranho músico que soltava de um violino apenas com duas cordas algumas melodias de grandes compositores. Uma pergunta e uma resposta algo desconexa levam-no a pouco e pouco a querer saber mais sobre a vida de um músico (que o era mesmo, ele não tinha já dúvidas disso) vivendo nas ruas agarrado ao seu violino tendo junto dele um carrinho atafulhado de uns velhos cobertores, estranhas caixas e outras velharias. Steve Lopez, o jornalista, alimenta as suas crónicas com as conversas com Nathaniel Ayers. Não era por acaso que ali próximo se erguia uma estátua de Beethoven. Há cerca de 30 anos, Ayers era um aluno de excelência numa das mais prestigiadas academias de Música, um jovem encantador que tocara em pequenos cafés musicais até que fora apanhado por um esgotamento mental. Agora está sozinho e é imensamente desconfiado. Mas Steve Lopez insiste e pergunta após pergunta, em breve começa a nascer entre os dois, apesar da desconfiança de Nathaniel, uma intensa amizade que nos fará compreender o poder redentor da música e a complexidade dos sentimentos quando entram em choque com realidades quase incontornáveis. Desse encontro verdadeiro, na tumultuosa Los Angeles, nasce pela escrita cuidada de Steve Lopez um romance que nos emociona e nos relembra os valores da verdadeira solidariedade que tantas vezes falta no mundo actual. Lopez lutará para que Nathaniel retome o rumo que um dia perdera. Mas será que ele necessita disso? Há momentos dolorosos e de desânimo. A história do sem abrigo que até tinha um curso tirado na célebre Julliard aparece-nos como algo do que não devia acontecer mas que pela força da amizade de quem foi atingido pelos sons de um violino de duas cordas ou talvez, quem sabe, por uns olhos estranhos que contemplavam um vazio, se transforma num hino maravilhoso que consegue enaltecer a verdadeira essência do humanismo. O amor tem as mais diversas facetas e formas de se exprimir. São também histórias de amor como esta que nos são trazidas pelos livros que não podemos nem devemos esquecer. Esta história demonstra-nos que a verdadeira amizade consegue mover montanhas. E por isso ela aqui está.

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