Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne

A CHAVE DE SALOMÃO
José Rodrigues dos Santos

Nos seus últimos romances José Rodrigues dos Santos tem insistido cada vez mais em incluir, para além da inerente parte ficcional, elementos de carácter histórico ou científico. Apesar de já ter sido atingido por alguns críticos que não apreciam esse caminho, argumentando que uma obra científica deve sê-lo de facto, tendo por única função a divulgação do conhecimento científico e um romance deve ter como finalidade a construção de um argumento ou de uma história mais ou menos ficcional ou verídica, o certo é que este autor é um record de vendas no nosso país onde já vendeu 2 milhões de livros, situando-se também no top de vendas em muitos outros países onde é de imediato aceite e traduzido com muitos milhares de exemplares. Portanto, que dizer deste último onde novamente lança Tomás de Noronha, o seu personagem criado em obras anteriores, agora suspeito de um estranho homicídio, que terá de resolver o que significa uma mensagem e um código, para provar que está inocente. A Chave de Salomão é um texto pseudepigráfico onde se encontram vários desenhos geométricos de mais que desconhecido ou discutível significado, atribuído supostamente ao Rei Salomão e daí o pentagrama que aparece na sobrecapa do livro. José Rodrigues dos Santos caminha no seu romance para além deste mistério, há muito indecifrável, para muitos outros sobre os quais presentemente tem sido difícil encontrar respostas como seja a existência da alma, o que é a consciência, para onde vamos depois da morte ou da própria existência de Deus. Ao longo das mais de 600 páginas (como sempre são enormes os seus livros o que pode ser bom para uns mas menos cómodos para outros), o autor cruza constantemente o desenrolar da aventura ficcional com as conjecturas científicas do seu personagem, entrando por descrições de conceitos científicos que são do domínio da física quântica. Ora é aqui que as opiniões dos críticos se dividem. Uns acham que não é um bom livro científico pois para isso existem os cientistas que os escrevem e apresentam. Outros consideram que isso é uma mais valia no romance de ficção pois os leitores ficam elucidados ou melhor elucidados, embora pouco profundamente, sobre algo que só a ciência pode explicar. Acreditamos – aliás José Rodrigues dos Santos o afirma – que a informação científica e técnica incluída na obra é genuína e que as teorias e hipóteses apresentadas são sustentadas por cientistas. E confessa mesmo ter consultado várias personalidades ligadas à física para o ajudarem, revendo os textos que ia escrevendo ou elucidando-o sobre dúvidas em outros que iria escrever. Também o facto de terem estado na apresentação do livro um físico e um psiquiatra são uma garantia de que aquilo que descreve está correcto e de acordo com o que actualmente se conhece. Nós próprios lemos há dias numa outra obra de John Brockman ( Respostas da Ciência) a referência de que Einstein negava a existência da realidade como sendo alguma coisa real pois, segundo ele, “a realidade só existe se houver um observador”. São de facto matéria estranha para grande parte das pessoas e, tal como este caso da realidade, outros acontecem no decorrer de “A Chave de Salomão” que os cientistas sabem mas que nem sempre conseguem apresentar de forma bem explícita à maioria dos leitores comuns. Vejamos uma rápida sinopse: o corpo de Frank Bellamy, director de Tecnologia da CIA, é descoberto no CERN, em Genebra, na altura em que os cientistas procuram o bosão de Higgs. Entre os dedos da vítima é encontrada uma mensagem incriminatória. “The Key: Tomás Noronha”. A mensagem torna Tomás Noronha o principal suspeito do homicídio. Depressa o historiador português se vê na mira da CIA, que lança assassinos no seu encalço, e percebe que, se quiser sobreviver, terá de deslindar o crime e provar a sua inocência. E é neste contexto que José Rodrigues dos Santos resolve juntar o melhor de dois mundos num só: o romance/aventura e a ciência. Será que o consegue para todos os que resolvem folhear esta sua obra? Não queremos ficar com essa dúvida e baseamo-nos apenas nas críticas e nos comentários deixados aqui e ali, nas diversas referências feitas a esta sua obra. Pessoalmente, nós que até acompanhámos a recente descoberta do bosão de Higgs ou Partícula de Deus no CERN, local escolhido por JRS para iniciar o mistério da estranha morte que incrimina o seu personagem, foi-nos fácil ir acompanhando as muitas descrições de carácter científico que o autor deposita nesta obra, como aliás tem vindo a fazer ultimamente. Mas podemos concordar que nem todos os leitores estejam com essa disposição para o fazer, o que é pena pois continuo a considerar José Rodrigues dos Santos um autor que merece ser lido. Fica o convite. E aguardemos mais um ano pela próxima obra para saber se este caminho por ele traçado irá continuar, intensificar-se ou, eventualmente, desviar-se para o conceptual. Confesso que gostava mais que ele continuasse a ser romancista e deixasse a ciência de lado. Mas a minha opinião de nada vale.

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