José Rodrigues dos
Santos
Nos seus últimos
romances José Rodrigues dos Santos tem insistido cada vez mais em incluir, para
além da inerente parte ficcional, elementos de carácter histórico ou
científico. Apesar de já ter sido atingido por alguns críticos que não apreciam
esse caminho, argumentando que uma obra científica deve sê-lo de facto, tendo
por única função a divulgação do conhecimento científico e um romance deve ter
como finalidade a construção de um argumento ou de uma história mais ou menos
ficcional ou verídica, o certo é que este autor é um record de vendas no nosso
país onde já vendeu 2 milhões de livros, situando-se também no top de vendas em
muitos outros países onde é de imediato aceite e traduzido com muitos milhares
de exemplares. Portanto, que dizer deste último onde novamente lança Tomás de
Noronha, o seu personagem criado em obras anteriores, agora suspeito de um
estranho homicídio, que terá de resolver o que significa uma mensagem e um
código, para provar que está inocente. A Chave de Salomão é um texto
pseudepigráfico onde se encontram vários desenhos geométricos de mais que
desconhecido ou discutível significado, atribuído supostamente ao Rei Salomão e
daí o pentagrama que aparece na sobrecapa do livro. José Rodrigues dos Santos
caminha no seu romance para além deste mistério, há muito indecifrável, para
muitos outros sobre os quais presentemente tem sido difícil encontrar respostas
como seja a existência da alma, o que é a consciência, para onde vamos depois
da morte ou da própria existência de Deus. Ao longo das mais de 600 páginas
(como sempre são enormes os seus livros o que pode ser bom para uns mas menos
cómodos para outros), o autor cruza constantemente o desenrolar da aventura
ficcional com as conjecturas científicas do seu personagem, entrando por
descrições de conceitos científicos que são do domínio da física quântica. Ora
é aqui que as opiniões dos críticos se dividem. Uns acham que não é um bom
livro científico pois para isso existem os cientistas que os escrevem e
apresentam. Outros consideram que isso é uma mais valia no romance de ficção pois
os leitores ficam elucidados ou melhor elucidados, embora pouco profundamente,
sobre algo que só a ciência pode explicar. Acreditamos – aliás José Rodrigues
dos Santos o afirma – que a informação científica e técnica incluída na obra é
genuína e que as teorias e hipóteses apresentadas são sustentadas por
cientistas. E confessa mesmo ter consultado várias personalidades ligadas à
física para o ajudarem, revendo os textos que ia escrevendo ou elucidando-o
sobre dúvidas em outros que iria escrever. Também o facto de terem estado na
apresentação do livro um físico e um psiquiatra são uma garantia de que aquilo
que descreve está correcto e de acordo com o que actualmente se conhece. Nós
próprios lemos há dias numa outra obra de John Brockman ( Respostas da Ciência) a referência de que Einstein negava a
existência da realidade como sendo alguma coisa real pois, segundo ele, “a
realidade só existe se houver um observador”. São de facto matéria estranha
para grande parte das pessoas e, tal como este caso da realidade, outros
acontecem no decorrer de “A Chave de Salomão” que os cientistas sabem mas que
nem sempre conseguem apresentar de forma bem explícita à maioria dos leitores
comuns. Vejamos uma rápida sinopse: o corpo de Frank Bellamy, director de
Tecnologia da CIA, é descoberto no CERN, em Genebra, na altura em que os
cientistas procuram o bosão de Higgs. Entre os dedos da vítima é encontrada uma
mensagem incriminatória. “The Key: Tomás Noronha”. A mensagem torna Tomás
Noronha o principal suspeito do homicídio. Depressa o historiador português se
vê na mira da CIA, que lança assassinos no seu encalço, e percebe que, se quiser
sobreviver, terá de deslindar o crime e provar a sua inocência. E é neste
contexto que José Rodrigues dos Santos resolve juntar o melhor de dois mundos
num só: o romance/aventura e a ciência. Será que o consegue para todos os que
resolvem folhear esta sua obra? Não queremos ficar com essa dúvida e
baseamo-nos apenas nas críticas e nos comentários deixados aqui e ali, nas
diversas referências feitas a esta sua obra. Pessoalmente, nós que até
acompanhámos a recente descoberta do bosão de Higgs ou Partícula de Deus no
CERN, local escolhido por JRS para iniciar o mistério da estranha morte que
incrimina o seu personagem, foi-nos fácil ir acompanhando as muitas descrições
de carácter científico que o autor deposita nesta obra, como aliás tem vindo a
fazer ultimamente. Mas podemos concordar que nem todos os leitores estejam com
essa disposição para o fazer, o que é pena pois continuo a considerar José
Rodrigues dos Santos um autor que merece ser lido. Fica o convite. E aguardemos
mais um ano pela próxima obra para saber se este caminho por ele traçado irá
continuar, intensificar-se ou, eventualmente, desviar-se para o conceptual. Confesso que gostava mais que ele
continuasse a ser romancista e deixasse a ciência de lado. Mas a minha opinião
de nada vale.