Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


O CRIADOR DE LETRAS
Pedro Foyos
Editorial Hespéria

Está mais do que demonstrada a importância da escrita na história da civilização. Considerados pelos historiadores os criadores da nossa escrita num alfabeto baseado em fonogramas, os fenícios e a sua civilização têm sido objecto do estudo de muitos historiadores que tentam trazer para o presente como eram, como viviam, o que pensavam, quais os seus mitos e lendas. Foi através de um enorme trabalho de investigação que Pedro Foyos escreveu o romance O CRIADOR DE LETRAS. Jornalista dos mais conceituados desta classe que desse modo a sabe honrar e a eleva ao que de mais complexo mas completo se pode exigir, ele concebeu uma obra que contém dados históricos do que se conhece acerca dos fenícios, dos mitos e lendas daquelas épocas, das crenças que satisfaziam as ansiedades daqueles tempos, os seus deuses implacáveis ou protectores, as trocas comerciais ou o desejo da descoberta além-mar, tudo enfim que o autor envolve numa ficção fascinante usando uma forma que cativa da primeira à última página. É sem dúvida um daqueles romances que não gostamos de interromper para recomeçar no dia seguinte, sempre ansiosos em conhecer o que Pedro Foyos nos vai revelar em seguida. O certo é que aprendemos muito como era natural que acontecesse num livro que se debruça sobre factos que infelizmente são pouco estudados e difundidos entre nós. E afinal, ali está uma hipótese inteligente de como pode ter sido a origem do alfabeto que usamos, baseado em sons que pronunciamos e com eles construímos as palavras e comunicamos. Assistimos à magia do espírito criador do personagem principal, o escriba a quem o Soberano de Byblos confiou a missão de inventar uma nova escrita, e é do seu raciocínio – ou do raciocínio do autor – que nascem uma a uma as 26 letras do nosso alfabeto. Sem que seja essa a intenção de Pedro Foyos, o leitor sente o fascínio de poder ser ele próprio a desvendar a letra que irá ser criada, de tal modo a construção é perfeita neste romance admirável. É também curiosa e extremamente interessante como algo que terá acontecido há mais de 3.000 anos, numa viagem às civilizações antiquíssimas do Próximo Oriente de que a cidade de Byblos, como aqui é descrita, se torna um símbolo das vivências religiosas e políticas de então, se pode confundir com muito do que hoje acontece à nossa volta. Intrigas e paixões políticas, ouro entregue aos soberanos tal como agora existem os impostos ao estado, dádivas e pagamentos aos sacerdotes dos deuses para destes alcançar os favores desejados (onde será que já ouvimos isto no presente?), tudo o que nos deixa mais uma vez aquela sensação que muitos gostariam de não acreditar: afinal o Homem não muda muito.
Juntemos ainda à forma como Pedro Foyos escreve este romance um certo aroma de escrita poética que nos torna ainda mais agradável a sua leitura. Existem portanto razões mais do que suficientes, embora muito mais ainda se pudesse dizer, para aconselhar a leitura d’O CRIADOR DE LETRAS que manterá um lugar de destaque neste meu AMOR PELOS LIVROS.


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