Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


Uma Dor Silenciosa
Francisco Guerra
Editora Livros d'Hoje

Há cerca de dois anos, trouxe a este mesmo espaço um livro a que me referi na altura como desejando não ter tido necessidade de o citar, melhor dizendo, que ele não tivesse sido escrito ou alguém não tivesse tido necessidade de o escrever. Bernardo Teixeira, uma das vítimas do Processo Casa Pia resolvera divulgar a sua história, ao mesmo tempo que se interrogava Porquê a Mim?, título do livro. Fora já testemunha no processo que se arrastava há anos perante o espanto da esmagadora maioria do povo português. Abandonado pela família quando tinha 11 anos, Bernardo fora entregue aos cuidados daquela instituição onde acabou por ser violentamente abusado e usado quando era suposto que o Estado o devia proteger. O livro foi leitura obrigatória para quantos acompanhavam o desenrolar do processo. Mas Bernardo não foi o único a testemunhar. Já depois do recente julgamento que terminou como todos sabemos com algumas condenações, adiadas por interpelação de recursos dos arguidos e enquanto aguardamos de novo o que se seguirá, é bom que se leia a história comovente de outra vítima que sofreu atrozmente os abusos violentos dos pedófilos envolvidos e que, sem citar os seus nomes, não é difícil reconhecer nas suas palavras. Francisco Guerra, considerado a principal testemunha do processo Casa Pia, muitas vezes citado como FG, conta-nos em “Uma Dor Silenciosa” a terrível história que, como confessa, destruiu os seus sonhos de criança. Exactamente. É que por mais cruel que infelizmente, algumas vezes e pelas mais diversas razões, a infância possa ser, todas as crianças constroem os mais belos sonhos que desejam ver realizados no futuro. Francisco Guerra foi retirado da guarda da família com cerca de 5 anos de idade e é toda a história a partir desse instante que ele nos conta, culminando com o enorme sofrimento que passou na sua passagem pela Casa Pia, de cujo processo se tornou a principal testemunha. Com alteração dos nomes dos envolvidos, revela todo o desenrolar do seu infortúnio durante a infância e porque resolveu contribuir para que se fizesse a justiça possível. São estas as palavras em que explica as razões porque resolveu escrever este livro: “A primeira de todas é para que a Casa Pia não seja esquecida e não deixe de estar na mira do país inteiro e, sobretudo, de quem deve zelar por ela (…) Em segundo lugar para que toda a gente saiba a verdade do que realmente se passou, em terceiro, e esta a menos importante de todas as três razões, porque talvez seja uma maneira de conseguir encerrar um capítulo muito triste e muito doloroso da minha vida. Embora saiba que nunca conseguirei esquecer o que se passou…”Com prefácio da Dra. Catalina Pestana eis um livro que não deveria ter sido possível contar como história verídica porque esta não deveria existir num mundo onde todas as crianças estivessem a salvo da maldade dos homens. É esse o mundo que todos deveríamos fazer o possível por construir. E por isso aqui aconselho a sua leitura. Para que a verdade seja conhecida e porque, infelizmente, como tudo leva a crer, a rede internacional de pedofilia continua activa em Portugal.

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