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A TEORIA DE TUDO
Stephen Hawking
No momento em que se exibe em todo o mundo o filme que esteve
nomeado para os Óscars, com o mesmo nome, será perfeitamente normal que os
espectadores recorram à leitura da sua
famosa obra para melhor conhecerem como aquele que é considerado um dos maiores
cientistas da actualidade, o maior físico teórico desde Einstein, revela ao
mundo a sua Teoria de Tudo. Conhecida a sua vida difícil mas corajosa, lutando
contra uma doença que desde a juventude lhe foi destruindo progressivamente
todos os músculos do corpo, deixando-o fisicamente inoperante, apenas conservando
a prodigiosa capacidade da sua mente brilhante, é quase irónico que tenha dado
ao mundo o conhecimento de todas as leis que regulam o universo. Ultrapassando
tudo o que até então tinha sido defendido e afirmado pelos seus antecessores no
domínio da astrofísica e mesmo dos seus pares na física teórica, Stephen
Hawking conseguiu chegar a conclusões sobre as origens do universo que abalaram
grande parte do mundo científico. E o mais espantoso neste seu livro é
conseguir explicar teorias tão complexas com exemplos simples, alguns retirados
da nossa vida quotidiana. Aliás a divulgação da ciência sempre foi considerada
por ele com a preocupação de poder ser compreendida não apenas pelos cientistas
mas pelo público em geral, mesmo por aqueles que apenas tenham o mínimo das
noções eventualmente adquiridas durante a sua formação ou na simples leitura de
alguns textos de divulgação científica. Este seu livro, editado entre nós em
2010, mas de novo com grande procura no mercado, em parte pelo sucesso obtido
pelo filme da sua biografia e o Óscar com que foi galardoado o actor que
desempenha o difícil papel do cientista, Stephen Hawking apresenta-nos uma
série de 7 capítulos que denomina lições onde, conforme nos diz, “tenta resumir
o que pensamos ser a história do universo, do Big Bang aos buracos negros”. Mas
recorda-nos igualmente o que pensavam Aristóteles já em 340 a .C. e depois Ptolomeu,
Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e mais recentemente Hubble. Naturalmente
diferentes e de acordo o que era conhecido em diversas etapas da nossa
civilização, vamos acompanhando o que foram os seus estudos e investigações
sobre a Terra e o espaço que nos rodeia, tudo aquilo que ficou para a história
como uma espécie de caminho para a descoberta e compreensão do Universo, de que
somos apenas uma pequeníssima parte. O problema principal que nos mais recentes
séculos se colocava era a questão do início do Universo. Mas também do nosso lugar
nele e de tudo o que existe muito para além do que observamos quando em
determinados momentos olhamos para aquilo a que resolvemos chamar céu. Se nos
interrogamos sobre o modo como tudo começou, também estamos interessados em
saber para onde caminhamos. Stephen Hawking dá-nos uma visão muito precisa e
que facilmente absorvemos de toda a série de observações que foram feitas e dos
fenómenos detectados, mas também das consequentes interpretações feitas pelos
diversos cientistas ao mesmo tempo que se desenvolviam motivações da parte das
mais variadas religiões. Para estas, tudo era mais facilmente explicado pela
existência de um ser superior ou criador e o problema estava resolvido. Mas a
ciência, baseada na observação directa que hoje é possível com os instrumentos
mais sofisticados e no desenvolvimento proporcionado pelas mais que provadas
leis da física moderna e da matemática aplicada, foi progressivamente
apresentando uma série de teorias para conseguir explicar como se processou a
formação do universo, a sua expansão e o caminho que conduzirá ao seu destino. É
toda essa série de teorias parciais que Hawking nos vai explicando ao longo das
páginas deste livro, na tentativa de ser encontrada uma teoria unificada. Esse
foi também um trabalho sem sucesso tentado por Einstein mas nesse tempo
faltavam ainda certos conhecimentos que só ultimamente têm vindo a ser
descobertos. Stephen Hawking consegue revelar-nos com pormenor o estado actual
do caminho para encontrar a Teoria de Tudo. No final da leitura desta sua obra
saberemos qual a situação actual e aos leitores será dada a conclusão.
Estaremos ou não a caminho de uma Teoria de Tudo? O autor considera que a
partir do momento em que for descoberta uma teoria completa todos seremos
capazes de a perceber na sua generalidade e participar na discussão das razões
porque o universo existe. E se descobrirmos a resposta, teremos obtido o
triunfo máximo da razão humana. Porque então – afirma Hawking – conheceremos a
mente de Deus. São muitos os que dizem que isto pode parecer um paradoxo vindo
de um ateísta confesso, como é do conhecimento público. Sendo um dos maiores
cientistas da actualidade que tornou a astrofísica acessível a todo o público é
igualmente paradoxal e irónico que tudo aquilo que pensa e descobre esteja
alojado no interior de um cérebro que pertence a um corpo aprisionado numa
cadeira de rodas mas comunica connosco através de um computador que recebe o
sinal enviado por um sensor colocado nos óculos que por sua vez reconhece um
pequeníssimo movimento no seu olhar. E foi aliás ele próprio que o concebeu
para depois ser montado pela Intel e assim,
apesar da sua debilidade física, ocupou até há pouco tempo a cátedra de
Isaac Newton da Universidade de Cambridge, sendo actualmente Director do Departamento
de Matemática Aplicada e Física Teórica. Trabalhos, livros e conferências são
conseguidos desta forma que, parecendo simples, é ao mesmo tempo
extraordinária, tal como a sua mente prodigiosa que nos permite ler obras como
esta que aqui deixamos.
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Nota do autor deste site: Já
depois desta obra, Stephen Hawking escreveu juntamente com Leonard Mlodinow
outra mais recente (2010) ainda não editada em Portugal. “The Great Design” (O
Grande Desígnio) é de novo uma tentativa para esclarecer as dúvidas que ainda
subsistem. Uma história apenas do Universo ou várias histórias do que convivem
em simultâneo? Já o lemos mas esperemos pela edição em português para o colocar
aqui.
AUSCHWITZ – UM
DIA DE CADA VEZ
Westher Mucznik
Auschwitz nunca mais! É este tipo de frase que apetece dizer, aliás
utilizado em diversas ocasiões quando queremos expressar o nosso desejo de que
determinados acontecimentos não se repitam. E quando neste caso, essa palavra
maldita significa um dos maiores horrores que os homens praticaram, levando ao
sofrimento e à morte de mais de um milhão de pessoas, homens, mulheres e
crianças, vivendo os seus últimos dias – se é que a isso se pode chamar viver –
sujeitos às maiores privações, desde a fome às torturas, espancamentos, sem
qualquer tipo de assistência mas muito deles fazendo parte ainda de diabólicas
experiências médicas, que os conduziam a males ainda maiores, quase duvidamos
que essa gente que originou o gigantesco holocausto, na tentativa de destruir
os que não eram da sua “raça” ariana, eliminando sobretudo judeus e ciganos,
pudesse pertencer à espécie humana. Nunca na história da humanidade se
perpetraram tais crimes, tão numerosos e com tanta violência. Os relatos que
nos chegaram, através dos sobreviventes, ao longo dos anos que se seguiram à
sua libertação, deram-nos a conhecer a forma como tais crimes eram cometidos, o
que se passava nas câmaras de gás, nos esgotantes trabalhos forçados para
ajudar a força de guerra nazi, nas casernas onde se amontoavam no total
desconforto como se de animais se tratassem, centenas de presos, muitas vezes
sem saber se estariam vivos no dia seguinte. Mas cada testemunho que nos chega,
cada história contada, cada retrato da miserabilidade a que foram sujeitos
esses muitos milhões de seres humanos é sempre algo que nos revolta ainda mais.
Se é que é possível ser maior a revolta que já sentíamos. No passado dia 27 de
Janeiro cumpriu-se mais vez o que está estabelecido para comemorar de 10 em 10
anos a libertação de Auschwitz em 1945. Foi há 70 anos portanto que o Exército
soviético entrou pelo chamado Portão da Morte para retirar os poucos
sobreviventes que ainda ali se encontravam depois dos nazis terem levado a
quase totalidade, muitos deles acabando por morrer nas marchas de retirada.
Nesta cerimónia, que contou com a presença de 11 líderes de países europeus e
delegações de mais de 40 países, assistiu-se pela televisão à forte carga
emotiva com que reagiram naturalmente os cerca de 300 sobreviventes que ali
voltaram para prestar a sua homenagem, muitos deles a familiares e amigos mas
não só, a todas as vítimas que perderam a vida naquele conjunto de campos na região
sul da Polónia. E, tal como foi salientado pelos oradores, os próximos
aniversários não contarão certamente, devido à sua avançada idade, com o número
de sobreviventes que ali estiveram desta vez. Foram as suas vozes e de outros
que já partiram que nos permitiram conhecer até que ponto foi possível tal
capacidade humana para a extrema humilhação, desprezo e genocídio de outros
seres, biologicamente seus iguais mas diferentes nas suas crenças ou religiões.
E é aqui que todos devemos centrar a nossa atenção. É necessário não esquecer,
não esquecer nunca, lembrar nas escolas e nos livros, para que passe de geração
em geração e possamos garantir com toda a certeza: Auschwitz nunca mais! Também
nós próprios desejámos trazer aqui mais um livro que saiu nestes últimos dias
precisamente nesse contexto. Para que não se esqueça. E mais uma vez, reparámos
que afinal ainda não sabíamos tudo. O que a autora, aliás já com outras obras
publicadas sobre Auschwitz, nos faz chegar em relatos não só de certo modo
reunidos pelas características do conteúdo em locais determinados mas também
cronologicamente organizados de modo a ser conseguido um historial dos factos
desde o nascimento destes campos até ao momento da libertação. Perante todo o
potencial de sofrimento e dor é também a luta pela sobrevivência, abortar a
gravidez para não morrer mãe e filho(a), até mesmo escolher entre a morte de
dois ou apenas um, praticando o crime de que mais tarde virão a sentir
remorsos. É reagir por vezes, lutando pelo que parece desnecessário face à
morte anunciada para salvar a faculdade de ser alguém, onde a cada dia em vez
de um “…preferia morrer” (…) decidir “lutar para sobreviver”. Da primeira à
última página, adquirimos uma estranha vivência de tanto sofrimento e tanta
dor, atingindo a suprema humilhação que desce ao mais imundo do carácter de
quem a perpetrou. E o que agora lemos só foi possível porque existem pessoas
como a autora, aliás com responsabilidades em vários organismos que se dedicam
a perpetuar a memória do Holocausto, que responderam ao pedido feito pelos
sobreviventes: “Não nos esqueçam!”. Não esqueceremos nunca, assim o creio. E,
se outras razões não existissem, bastaria isso para dar também este meu humilde
contributo de aqui deixar o convite para que leiam este livro de Esther
Muchznik. Como é hábito vai ser possível proporcionar ao visitante deste espaço
a leitura de alguns excertos dele. E posso afirmar que nunca me foi tão difícil
a escolha. Porque na verdade todo o livro merece ser lido. Há mais, muito mais
para ser conhecido. Bem-haja quem nos permitiu que assim fosse.
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