Confessando o quanto admiro a escritora e jornalista Clara
Ferreira Alves, tomo a liberdade, que nunca fiz, de reproduzir a cinta que
cobre esta sua obra para início do que farei o possível por dizer sobre o seu
conteúdo. De facto está ali tudo o que a autora nos vai contar. “Estes são os
dias da América: o poder do dinheiro, os bastidores da política, as malhas da
guerra, o quotidiano dos que não têm voz”. Clara Ferreira Alves, como aliás tem
referido por várias vezes nos seus artigos e em intervenções televisivas,
conhece bem a América, o nome pelo qual são designados os Estados Unidos da América.
Percorreu todos os estados de uma costa à outra, desde 1980 até aos dias de
hoje. Em muitas das cidades permaneceu durante vários dias e teve a
possibilidade de avaliar o modo de viver do povo americano, não deixando de
notar que desde Reagan até aos dias de hoje com Trump, os presidentes não
conseguiram fazer desaparecer o grande fosso que divide ricos e pobres. Afinal
a América da Liberdade, o país tantas vezes desejado por aqueles que
acreditavam que ali iriam encontrar um futuro radioso para si e muitas vezes
também para a família, vive do poder do dinheiro infiltrado nos bastidores da política.
Chegavam pobres, pensando poder ali viver com alguma dignidade e segurança
quando na maior parte das vezes ficavam pior do que nos seus países de origem.
Clara Ferreira Alves encontrou muitos desses emigrantes em pequenas cidades do
interior de muitos dos estados. O sonho americano que eles imaginavam que iriam
encontrar naquele país não chegara a concretizar-se. A autora analisa,
investiga as possíveis razões e leva-nos a percorrer como era a América nos
dias de Reagan, dos Bush, de Clinton, mesmo de Obama e até como vai ela com o
actual Trump. Assistimos ao verdadeiro desenrolar dos episódios conhecidos
durante esses vários mandatos. Mas esta obra consegue descrever-nos com a
exactidão da veia jornalística, não só o como, mas também a razão porque
aconteceram as inúmeras cenas que apenas todos nós conhecíamos das notícias que
foram sendo divulgadas durante todos esses anos. E sem qualquer sombra de
dúvida é possível concluir como afinal estas cenas da vida americana nos
revelam ser sempre o poder do dinheiro dos mais ricos que, como sempre, acaba
por vencer e deixa sem o mínimo conforto os que não conseguiram alcançar o
ambicionado sonho americano, velhos vagabundos, drogados, negros e brancos
desempregados e também mulheres. Mulheres, muitas mulheres sem família, sem
filhos, que os maridos abandonaram para tentar qualquer outro caminho que
aquela América lhes negou, deixando-as em perfeita miséria, sujeitas aos piores
sacrifícios que nunca pensaram ter de suportar. É verdade que a autora não
nega, como afirma peremptoriamente, que a América salvou a Europa em momentos
da história em que tudo parecia ruir neste nosso continente. E de tal modo isso
foi verdade que o século XX chegou a ter o nome de século americano. Em Nova
York persiste uma vida turbulenta que nos dá a ideia de que tudo vai bem. As
grandes salas de espectáculo enchem-se das elites que sempre persistiram. E os
bons restaurantes não faliram, pelo menos por enquanto. É lá que uma certa
gentalha se reúne para combinar as grandes fraudes. Central Park ainda existe.
Aliás sempre existiu. Mas de dia é uma coisa diferente do que ali se passa de
noite. Não é seguro. Por lá proliferam os vagabundos e assaltantes. Nós
próprios assistimos a isto quando lá estivemos certa vez em serviço. E já havia
gente sentada nos degraus das portas de saída de muitas casas, estendendo a
mão, pedindo uma esmola que cairia ou não no chapéu colocado à sua frente.
Assistimos a isto em muitas ruas não muito longe do centro de Nova York. Também
eu fiquei desiludido nesse tempo, antes dos anos que Clara Ferreira Alves nos
conta nesta sua obra que reúne muitos dos artigos que publicou desde 1980. E
parece que no essencial nada mudou. Estas suas “Cenas da Vida Americana” servem de facto para ficarmos a conhecer
melhor o que é a América. Não conseguimos transmitir aqui com muito pormenor a
mais pequena ideia de uma tão vasta história. Apesar do que nós próprios podermos
ter visto, tudo o que sabíamos da América ficou agora totalmente transformado
naquilo que constitui a verdade vivida por Clara Ferreira Alves. Claro que
termina com a análise possível do que acontece presentemente com Trump, o homem
que segundo ela “quer destruir o sistema, o amante da força bruta e da guerra
total, o ditador dos media, o Goebbels de uma ópera bufa, a crueldade
claramente vista”. Aconselhamos vivamente esta leitura.
Para ler alguns excertos desta obra clique aqui
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