UMA ESPERANÇA MAIS FORTE
DO QUE O MAR
Melissa Fleming
Este livro é um verdadeiro livro de amor, apesar de relatar
uma tragédia e sobrevivência de uma refugiada. Se alguém perguntar como pode
ser um livro de amor, basta dizer que essa refugiada antes de iniciar a viagem
para fugir da Síria teve momentos com provas de grande amor quer pelo seu país
martirizado como pelos seus familiares. Já também depois de iniciada a viagem
encontrou um homem pelo qual se apaixonou e que viria a auxiliá-la para poderem
continuar a fuga, embora algo de muito dramático tenha acontecido até chegar ao
primeiro país da Europa que a levaria finalmente ao destino ambicioso de
alcançar a Suécia onde reside actualmente, depois de ter perdido tudo e todos.
A autora Melissa Flemming é Directora de Comunicação e a
porta-voz do Alto Comissariado das Nações unidas para os Refugiados e teve
conhecimento da história da refugiada através do website grego. Sempre atenta a relatos de sobrevivência que
demonstrem o drama dos refugiados e que possam transmitir ao público que apenas
conhecem as notícias dos jornais, embora também estas elucidativas, a
necessária empatia para que todos possamos contribuir com qualquer parcela de
auxílio que esteja ao nosso alcance para acabar com o drama dos refugiados, Melissa
procurou pelos meios ao seu alcance conhecer a refugiada Doaa quando ainda se
encontrava em recuperação num hospital em Atenas. Na posse de diversos artigos,
fotografias e relatos entretanto publicados na imprensa ateniense e não só, o
livro dá-nos a conhecer a verdadeira história de Doaa que conseguiu, apesar de
momentos de grande sofrimento ao relembrar factos passados e alguns deles muito
recentes como a do naufrágio em que conseguiu resistir até ser recolhida pelos
tripulantes de petroleiro que navegava no Mediterrâneo em direcção a Gibraltar
que ficaram surpreendidos com a enormidade de cadáveres a boiar à superfície
mas também o que lhes parecia serem os gritos de socorro que alguém gritava
mais alem. Era Doaa pedindo socorro para duas meninas que segurava nos braços
enquanto se agarrava à pequena bóia de que dispunha.
Neste livro que António Guterres classifica como de “Um livro
admirável de uma autora que não o é menos”, é contada toda a história de Doaa
desde a sua infância feliz na Síria quando este país ainda era um lugar
pacífico até à actualidade, e devemos salientar que em 2016 Doaa Al Zamel
recebeu o prémio OFID 2016 para o Desenvolvimento, atribuído pela OPEP, pela
sua coragem e determinação. Tal como ela própria declara em “Nota de Doaa” no
final do livro, “partilhou nele o seu sofrimento”. Trata-se apenas de uma
pequena amostra das provações e da dor que os refugiados espalhados pelo mundo
têm se suportar e de enfrentar. Sou apenas uma voz entre os milhões que, todos
os dias, arriscam a vida para conseguir viver com dignidade.” E é isto na
verdade o que podemos ler neste livro, juntando-lhe os episódios trágicos de
alguém que apenas deseja encontrar um lugar onde fosse possível viver em paz,
onde as crianças não morressem de fome ou por balas indiscriminadamente
disparadas pelos grupos terroristas. E também as falsas promessas, pagas a peso
de ouro com todas as suas economias, para conseguirem um lugar numa frágil
embarcação que depois os traficantes desumanos e criminosos abandonam a meio do
mar, sem combustível para alcançar terra firme, muitas vezes acabando mesmo por
naufragar. Dir-se-á que todos sabemos desta tragédia dos refugiados, que nos
revolta e lamentamos. Mas aqui, neste livro, temos um rosto que vamos acompanhando,
uma história que parece decorrer a nosso lado, um exemplo bem real de todos os
milhares de refugiados aos quais acontecerá algo semelhante que enchem os
noticiários e os artigos dos jornais. Sim sabemos que alguns refugiados
alcançam as praias do sul da Europa e vão ficando em acampamentos,
deficientemente alojados, até que possam arranjar a desejada licença para
alcançar um país que os receba, nomeadamente o nosso. Mas o que encontramos
neste livro é toda a história da luta pela sobrevivência de uma refugiada,
contada por uma admirável escritora. Ficamos mais conscientes do que é o drama
dos refugiados. E isso é importante.
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