Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


MENSAGEM
Fernando Pessoa
Ed. Centro Atlântico

É a Hora! Assim termina essa extraordinária obra que o poeta dedicou à sua Pátria e onde descreve a sua origem e passado, esquecendo o presente mas visionando o futuro deste país. Terá sido essa a ideia que presidiu à criação. Tendo publicado em vida vários poemas dispersos por jornais e revistas literárias, a Mensagem viria a ser o único livro que se permitiria publicar antes de morrer, a pedido de um membro do regime, seu amigo, mas que haveria de ser retirado por não possuir o número mínimo de páginas requerido para concorrer ao Prémio Antero de Quental. Viria a receber um outro Prémio especialmente criado para si. Ao longo do tempo, os estudiosos e críticos pessoanos não se cansaram de elogiar o significado da Mensagem. São muitos e variados esses estudos e naturalmente importantes para a compreensão do significado da Mensagem. Pessoa tem sido considerado mais importante na literatura poética do que o próprio Camões com os Lusíadas ou pelo menos igualmente importante. Para o grande público, no entanto, a Mensagem é uma espécie de símbolo criado pelo poeta dos heterónimos mas ao lê-la é por vezes difícil compreender o tão profundo ela se enraíza no que nos pertence ou pertenceu e na visão que o autor pretendia dar do seu país que um dia havia de renascer. Já depois de lhe ser atribuído o tal prémio especial, é o próprio Pessoa que realça o profundo simbolismo que esta obra encerra num modo onde poderemos percepcionar os seus desejos de uma fraternidade universal. Ora é esta profundidade que por vezes escapa ao comum dos leitores. Por isso “É a Hora”, quando decorrem as celebrações do 75º aniversário da sua morte, de aparecer uma edição especial da responsabilidade da Centro Atlântico que nos oferece para além do grande poema épico o acompanhamento na página adjacente do significado das palavras ou expressões utilizadas pelo poeta. Até onde chega afinal o sentido verdadeiro que ele lhe quis dar. E é esse contributo valiosíssimo, da responsabilidade de duas licenciadas em Filologia Românica, Auxilia Ramos e Zaida Braga. Sabia por exemplo o que significam exactamente aquelas estrofes tão conhecidas: “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal!” e que depois termina com a frase: “Para que fosses nosso, ó mar!”? Pois cada estrofe ou conjunto de estrofes está explicada de forma acessível e compreensível para todos, de modo a não prejudicar minimamente a leitura fluente do poema épico. Uma Mensagem a não perder, esta que descreve talvez o que de mais verdadeiro existe na condição universalista de ser português. Mas terá de ser bem compreendida para lá chegarmos. E, não sendo a única, é essa a grande virtude desta magnífica edição.

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O ANJO BRANCO
José Rodrigues dos Santos
(Ed. Gradiva)

Uma das coisas que mais admiro na obra de José Rodrigues dos Santos tem sido a sua grande capacidade de nos prender no desenrolar dos acontecimentos que relata, quer sejam de carácter ficcionista ou parcialmente verídicos. Para mim que não sou crítico literário mas um leitor atento e entusiasmado – ia quase a confessar apaixonado – como se cumpre afinal este espaço dedicado ao meu Amor pelos Livros, é essa uma das facetas que deve caracterizar um romancista. E José Rodrigues dos Santos que vai com este livro no seu 8º romance tem sido como tal reconhecido pelo público que esgota as numerosas edições que têm sido feitas dos vários títulos. Não estamos nem minimamente convencidos que tal seja devido ao facto de ser igualmente um jornalista de grande mérito como por vezes é afirmado em relação a outros colegas seus, também jornalistas, que publicando obras de certo valor literário não conseguem obter os mesmos êxitos. Portanto algo de diferente, obviamente, se passa com os romances de José Rodrigues dos Santos. A construção literária, fluida e correcta, acompanha uma história que pode ou não ser verosímil mas que o leitor aceita como tal. Em obras anteriores, nomeadamente a Fúria Divina, a documentação foi criteriosamente investigada, resultando num misto de ficção e realidade em que o leitor mergulha, para compreender alguns dos aspectos menos conhecidos do fundamentalismo islâmico que, como sabemos é um assunto eminentemente actual. Desta vez, temos o que alguns poderiam chamar um livro sobre as raízes de alguém que conhecemos muito bem – creio que o autor confessou que estava ali o retrato de seu Pai. O Anjo Branco é um médico que na sua estadia em Moçambique, resolve criar um sistema inédito de auxílio aéreo às populações mais carenciadas e desprotegidas. De repente vê-se confrontado com a Guerra Colonial. Mas para José Branco era indiferente o lado em que se encontravam. A sua missão era humanista e universalista. José deslocava-se num pequeno avião para onde quer que fosse necessária a sua presença. E assim nasceu no mato uma espécie de lenda. O romance descreve portanto o panorama vivido nessa antiga colónia portuguesa, num dos momentos mais difíceis da nossa história recente. Realidade ou ficção, em alguns aspectos, só o autor o sabe. Um grande amigo meu, igualmente médico, que fez serviço em Moçambique, nesses tempos, recorda efectivamente a presença daquele a quem a população chamava o Anjo Branco, aquele que descia de um avião, chegado do céu, vestido de branco, para sarar as feridas abertas pelo terror da guerra. Mesmo que tenha sido uma espécie de homenagem a esse homem a quem o autor estava ligado (José Rodrigues dos Santos nasceu em Moçambique) este seu novo romance não deixa de nos fascinar pela forma como está escrito e pelos sentimentos de abnegação e verdadeiro amor ao próximo que consegue transmitir-nos e que tão importantes são hoje para uma possível mudança radical no mundo em que vivemos.

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NAS SUAS PALAVRAS
José Saramago
(Ed. Caminho)

Este é, assim o podemos considerar, o derradeiro livro de José Saramago. Numa recolha do que disse ou escreveu, a partir de 167 fontes de entrevistas e livros, feita pelo seu amigo Fernando Gómez Aguilera, poeta, ensaísta e filólogo, apresenta-se, se é que para alguns é necessário, o verdadeiro retrato desse homem que para além de um grande vulto da literatura portuguesa, foi sempre o espelho do que há de mais digno num ser humano. Fiel às suas convicções humanistas de defesa dos direitos do homem, de ser a voz dos mais pobres e sacrificados deste mundo cruel em que vivemos mas também da capacidade de criticar quando entendeu que o devia fazer, sempre considerando que a ética (nas suas palavras) “é a coisa mais bonita da humanidade”, estão neste livro fragmentos do seu pensamento que nos ajudam a entender melhor o que somos como seres humanos.
Esqueçamos as divergências políticas ou religiosas em alguém que sempre pautou o seu comportamento pela capacidade de ser livre e de saber dizer não. Aqui, nestas páginas deste livro, n’As suas palavras, todos podem encontrar o verdadeiro Saramago e talvez até as razões porque teve de escrever sobre assuntos que alguns consideravam – e por ventura ainda consideram – intocáveis. Para ele, que considerava que entre os direitos do homem também pode e deve haver o direito à heresia, arrisco-me a dizer que teria a obsessão de procurar a verdade dos factos e das coisas, o porquê da história contada ao longo dos tempos, uma tentativa de se esclarecer e de esclarecer os outros com algo que poderia muito bem ser a verdade encontrada. Mas Saramago nunca pretendeu impor as suas ideias. Apenas as defendeu com as únicas ferramentas que um ser humano digno deste nome deve usar: a voz e a escrita. Pela escrita recebeu o Nobel da Literatura com o qual honrou mais o seu país do que o impressionou a si próprio, não se preocupando em mudar as suas ideias ou as suas relações com o mundo e com as pessoas. Pela voz foi possível muito mais: denunciar injustiças, fazer a análise crítica das circunstâncias em que o mundo vive e isto em qualquer hora, em qualquer lugar porque, segundo ele, a Vida está sempre noutro lugar e é necessário caminhar ao seu encontro. Foi isso que fez. Caminhou onde quer que fosse necessário. Utilizando as veredas tortuosas que se deparam quando se quer ir mais além, ao fulcro das questões por vezes ocultadas para que dificilmente sejam reveladas as suas pecaminosas origens, Saramago não poupou palavras e revelo-as ao mundo. Aí estão para os que quiserem conhecer a verdade. Saramago ainda conseguiu fazer a revisão deste livro. Pilar del Rio no dia da apresentação da obra, revelou à assistência que enchia a Sala do Palácio Galveias uma frase dita pelo marido pouco antes do seu falecimento, quando juntamente com alguns dos seus amigos se falava sobre a crise actual num recanto do quarto onde o escritor estava deitado, pensando-se até que ele não estaria a ouvir. Mas estava. E então todos o ouviram dizer: “Esta crise não é uma crise económica, é uma crise moral”. Já não foi a tempo de ser publicada nesta edição. Mas sairá na próxima. Medite-se bem nesta verdade com que Saramago resolveu selar os seus últimos momentos, sempre preocupado com o mundo que continuaria a girar mesmo depois dele partir.

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JARDIM REPUBLICA
Pedro Foyos
Editorial Hespéria

Não foi fácil a história dos momentos que se viveram antes e depois da implantação da Republica que este ano se comemora. Nem todos os conservadores se comportavam como o meu Avô que sendo monárquico e um médico ilustre que também ficaria conhecido como figura importante na luta pela autonomia dos Açores, pagava do seu bolso a um dos seus filhos, ainda durante os últimos tempos da Monarquia, a edição de um pequeno jornal clandestino defendendo a Republica, do qual era responsável o meu Pai, ao tempo estudante em Coimbra. Foram duras e acesas as lutas entre os conservadores e os reformadores livres-pensadores do novo regime implantado a 5 de Outubro. Mais ou menos conhecidas as diversas manifestações ocorridas, através de relatos publicados nos jornais da época, alguns assinados por figuras ilustres da nossa literatura, o escritor Pedro Foyos resolveu revelar um dos factos históricos talvez mais ignorado mas que ilustra bem a irracionalidade de certas motivações. O autor dos recentes Criador de Letras e Botânica das Lágrimas é um excelente investigador que não desdenha a sua faceta jornalística de renome e consegue juntar, numa obra, a documentação histórica e rigorosa com a ficção fantástica. O seu Jardim Republica é uma obra encantadora. E esta classificação estende-se ao fenómeno de a sua leitura nos encantar ao ponto de não pararmos sem atingir a última página. E se não fosse suficiente o facto de ser uma obra que enaltece o amor pela Natureza que nos rodeia, defendendo a sua preservação para garantir a vida na Terra, existe a magia do autor ao descrever o que foi a história pela criação do Dia da Árvore.
De facto, o culto da árvore marca de forma insofismável a transição do regime monárquico para a Republica. E conforme nos descreve Pedro Foyos, nasce um aproveitamento político para acusar os republicanos de uma idolatria ateísta pelos novos deuses e de odiosos destruidores da moral cristã. Figuras eminentes da cultura portuguesa tentam desmentir tais falsidades interrogando os conservadores sobre como foi possível imaginar que Deus tivesse criado a árvore para depois se arrepender.
Começando pela descrição ficcionada de como uns tantos inimigos da recente Republica lançavam o seu ímpeto destrutivo contra tudo o que era espécie vegetal e invadiam pela calada da noite os locais onde tinham decorrido as plantações integradas no recém-criado Dia da Árvore, o autor descreve como em pleno Jardim Botânico todas as plantas se organizam para derrotar os vândalos invasores. E depois deste seu conto fantástico, Pedro Foyos apresenta-nos na segunda parte desta obra uma série de documentos que são o verdadeiro testemunho histórico dos acontecimentos que foram consolidando as celebrações do Dia da Árvore e levaram já após o 25 de Abril à sua passagem para Dia Mundial da Floresta.
Assinalemos como factor que muito enriquece esta obra a cuidada ilustração a preceito para um conto fantástico e a reprodução de registos iconográficos de vária ordem publicados na época, tudo razões mais do que suficientes para recomendar a sua leitura como algo imperdível e por isso merecedor da nossa classificação em Amor pelos Livros.

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O PRINCIPEZINHO
Antoine de Saint- Exupéry
MHIJ Editores

Este é um dos livros que não agrada apenas aos mais novos por ficarem encantados com a história daquele Principezinho que aparece ao autor em pleno deserto dizendo ter vindo de um asteróide para saber como se vive na Terra. E passamos a assistir a um diálogo em que ele conta o que já lhe aconteceu, interrogando-o sobre o significado de muito do que já tinha observado e que não conseguira compreender. Saint-Exupéry vai tentando explicar-lhe o que sabe e o que imagina saber, pois nem todas as perguntas têm uma resposta lógica para o Principezinho. Aliás o pequenino herói também lhe conta muito do que se passa lá por cima no seu e noutros asteróides que também visitou. Ao reler agora este livro ou escutá-lo em CD pela voz de Pedro Granger num audiolivro, teremos de nos esquecer que para os dias de hoje, quando o homem já viaja em sofisticadas naves espaciais que lhe dão a conhecer o espaço extra-terrestre, a história poderia parecer não ter sentido. Mas Saint-Exupéry foi no seu tempo muito mais além do verdadeiro sentido das coisas e dos homens do seu tempo. Humanista por formação, este homem que também foi aviador que viveu na realidade aventuras várias tocando em muitos pontos do globo, tendo aliás desaparecido na sequência de um estranho desastre nunca completamente esclarecido e muitas vezes envolvido nas mais curiosas experiências, delicia-nos nas páginas desta obra com extraordinárias conclusões sobre a humanidade e de como o homem que a integra pode ou não reagir. E de facto, acabo por concluir que muita coisa de que não me apercebi neste livro que li na minha infância, me aparece agora com grande evidência, demonstrando um autor que tinha muito mais para dar no seu Principezinho do que apenas uma história infantil. Afinal sempre é verdade que “«Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos...». Como em muitas das suas outras obras que nos deixou, Saint-Exupéry também aqui não deixa de fazer o seu apelo a uma união de todos os homens, independentemente da sua raça, religião ou idioma. E a sua intenção era sem dúvida que, ao ler o seu livro, os jovens aprendessem a sentir e a defender desde pequenos esses valores tão importantes e cada vez mais nos dias que actualmente vivemos. O valor supremo da solidariedade está bem patente ao afirmar: “«Quando nos deixamos prender a alguém, arriscamo-nos a chorar de vez em quando...». E como gostei de voltar a sentir-me criança e ao mesmo tempo absorver muito do que outrora não me apercebi mas que talvez – e humildemente o digo – tenha influenciado a minha formação, saúdo esta nova edição e faço votos para que seja lida por todos, sobretudo os mais jovens, alheados de boas leituras, contribuindo afinal para conseguir um futuro que desejamos mas que infelizmente ainda não soubemos criar. A esperança é a última coisa a morrer. Isso sabemos. E apesar de tudo o que se espelha hoje à minha volta, ainda resiste em mim. Não pretendo com isto dizer que não existam autores na literatura infantil actual que defendem princípios iguais mas o Principezinho de Saint-Exupéry é um verdadeiro clássico que merece conservar o seu lugar no nosso tempo.

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O PARADOXO DO AMOR
Pascal Bruckner
Publicações Europa-América

Este livro é mais uma contribuição valiosa para conhecermos melhor o porquê do Paradoxo do amor, assim conhecido e definido por ele se contrariar a si próprio. Acontece, tem a sua duração mais ou menos limitada e depois, talvez devido a uma contrariedade ou mais do que uma, provocada por certas inibições no comportamento normal do ser humano, desvanece, passa por fases mais obscuras ou mesmo desaparece. E afinal terá sido sempre assim? O amor de hoje é diferente do de outros tempos? Como seria no homem primitivo? E como classificar os mais diversos tipos de amor, o amor materno, o amor por um Deus, o amor à vida, o amor aos outros? Será que nestes casos também se perde alguma coisa, em troca? Mas vejamos o que a maioria pensa.
Qual de nós não tem uma opinião sobre o significado do Amor? Todos aspiram a vivê-lo um dia ou a continuar a vivê-lo para aqueles que julgam – julgam digo bem – ter encontrado já esse sentimento e estar a desfrutá-lo. Os adultos recordam com certeza as histórias dos livros infantis sobre um príncipe e a sua amada que terminavam todas de igual modo com aquela frase “e viveram felizes para sempre”. Significava isso que o seu amor não terminaria nunca. Os jovens de hoje já não lêem essas histórias e até sabem que o amor chegará mas não têm a certeza de que durará para sempre. E no entanto, assistimos a entrevistas com idosos que dizem que já vivem felizes há muitos anos, vivendo intensamente o seu amor. Claro que poderá haver excepções. Mas a regra não é de facto essa. O amor desaparece mais tarde ou mais cedo e fica qualquer coisa que muitos intitulam de amizade. E daí a confusão. Porque será que amor morre? Se é que morre. Depois temos os romances imortais de Romeu e Julieta, Orfeu e Euridice e muitos mais. Grandes amores sem dúvida, embora ficcionados, mas com um final infeliz. Temos também os poetas que nos falam do verdadeiro amor, que dedicam os seus poemas aos seus entes queridos, desejando amá-los para todo o sempre. Enleados em tudo isto e muito mais, para não nos alongarmos, vamos formando pessoalmente a nossa opinião. E no entanto não conseguimos explicar porque razão é que ele desaparece. Sabemos que é mentira ao que nos conta a História sobre os Grandes Amores. Sabe-se agora que não terá sido totalmente como nos contaram os amores entre D. Pedro e D. Inês. Já há largos anos que deixou de ser tabu falar no sexo e utiliza-se também o termo amor carnal. Para o diferenciar – diz-se – do amor platónico, sendo que esta expressão não tem nada a ver com o conceito de amor na filosofia de Platão. Mas adiante. O que será que este autor nos diz mais do que outros que o antecederam? Ao longo dos tempos muitos têm sido os autores que se têm debruçado a explicar o paradoxo do Amor. E para além do amor entre dois seres humanos sempre aproveitaram naturalmente para falar da parte mística, do amor divino respeitante ao que pode existir numa qualquer religião. Só para citar um caso, Vaugham Lee debruçou-se mesmo sobre os sufistas de uma ordem Islâmica persa Naqshbandi apresentando as razões da existência também do paradoxo do amor divino. E também ali, como nas restantes religiões, o amor ao outro confunde-se com a perda da liberdade. Ora se quem ama o divino deverá ser amado por Ele, porquê então esse Ele lhe vai proibir a liberdade. E a história que aproveitámos para exemplo, todos a conhecem repetida nas restantes religiões. Mas falemos deste livro de Pascal Bruckner que não deixa igualmente de referir as contradições ou paradoxos dentro da religião cristã, chegando mesmo a citar Santo Agostinho a respeito do problema da sexualidade. O Santo imaginava as cópulas de Adão e Eva no Paraíso antes do pecado original e inventa mesmo a sexualidade sem libido. Mas para o autor como para todos nós, isso nada tem a ver com o significado do amor verdadeiro, total. Bruckner não deixa, é claro, de nos recordar, relatando com factos históricos a evolução ou revolução que aparece na nossa sociedade, principalmente a partir das ideias do Maio de 68, sendo que algumas permaneceram e foram aceites nos dias de hoje por uma certa camada da população mas ao mesmo tempo condenadas por outra. É que o amor e as relações humanas são de facto a parte mais paradoxal do ser humano. E Bruckner, como outros, refere por exemplo que no amor podemos encontrar ao mesmo tempo a maior das forças e as mais profundas tristezas. Mas contrariamente a outros autores que se interessaram pelo paradoxo do amor no plano geral da humanidade e da falta dela, este ensaísta, várias vezes premiado pelas suas obras, dedica-se sobretudo neste livro ao amor, na sua parte de relação entre dois seres. E não deixa de nos recordar como, contrariamente ao que julgavam os que o conceberam desde Engels a muitos teóricos do século XX, o casamento por amor não veio afinal a contribuir para que acabasse a prostituição e o adultério, tal como a desejada libertação sexual da década 60/70 não iria conduzir-nos ao verdadeiro encontro com o sublime. O curioso é que a conquista a partir do século XVII de se passar a escolher quem amamos e a amar quem nós queremos não nos trouxe a liberdade, salvo naquele pequeno período da revolução de Maio e alguns anos que se seguiram. Será que é assim tão impossível conjugar os dois desejos que nos trariam a felicidade? A solução tem sido encontrada no adultério, tanto do homem como da mulher mas é uma das principais razões da dissolução do casamento. Como encontrar resposta para tantas questões. Desejamos o outro para sermos felizes mas desejamos igualmente a liberdade cuja perda parece ser afinal o preço a pagar pelo amor. Mas se aquele que ama é amado, deveria haver da parte do outro a compreensão e o amor suficiente para o aceitar tal como é, desde que isso nunca atingisse, como por vezes é hoje corrente, o uso da violência. Neste caso, não há amor verdadeiro. Ou será que o amor traduzindo uma certa violência, nos mistérios da posse, para atingir o máximo de prazer se confunde depois com o ultrapassar do humano? Num plano completamente diferente, quase todos os que se têm debruçado a estudar o amor estão de acordo em que apesar de ele poder ser entendido de diferentes formas - e nesse caso teremos de o considerar como algo de abstracto – ele será um sentimento por excelência de todo o ser humano, sendo vital para as nossas vidas, a tal ponto que sem ele não sobreviveríamos. Apesar de se poder morrer de paixão, ansiamos por ela mas desejamos ao mesmo tempo ser livres. Mas a paixão domina. Sabemo-lo todos. Tudo isto faz parte do paradoxo do amor que tem sido intensamente estudado, analisado e exposto. E este livro de Pascal Bruckner, debruçando-se sobre aspectos tão vastos, impossíveis de aqui descrevermos, é um contributo que recomendamos. Não porque se encontre a solução que não parece fácil mas porque é uma obra completíssima para compreendermos a realidade: o homem evoluiu mas o mesmo não aconteceu com o amor. Perante isso, preparemos o futuro.

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DIÁLOGOS PARA O FIM DO MUNDO
Joana Bértolo
Editorial Caminho


Não é fácil a leitura deste livro da jovem escritora curiosamente licenciada em Belas Artes e presentemente a fazer o seu doutoramento em Berlim. Distinguida já com vários prémios, um deles atribuído precisamente a este título quando ainda na sua fase de manuscrito (Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho –2009) a fundamentação do júri salientava uma desenvoltura de linguagem, originalidade na construção narrativa e a variedade de registos (…) denotando um louvável poder de comunicação. Mesmo antes de termos tido conhecimento destes fundamentos, também encontrámos nestas páginas um inegável poder de concentração dos mais variados sentimentos, ligados por factos que já aconteceram e de que temos conhecimento como de algumas interrogações que todos nós fazemos sobre o incompreensível futuro que sempre nos espera ou espreita à esquina do caminho a percorrer. Joana Bértolo não pretende dar respostas mas sim levar-nos a pensar sobre uma imensidade de questões que habitam o vasto oceano das nossas vidas. E por essa razão dissemos há pouco que não era fácil a sua leitura mas talvez até por isso mesmo exista a vantagem de o fazermos e não sendo um livro cujas páginas se devoram aguardando o momento de as voltar merece que paremos de vez em quando para avaliar até que ponto nos revemos nelas ou revemos até o próprio mundo em que vivemos. Escrita original, sem dúvida, a pouco e pouco vamos querendo viajar com Joana Bértolo pelos caminhos que vai traçando nas suas descrições. E para que tudo estivesse mais completo nem a música deixa de estar presente. Seja ela pressentida no convés de um navio que soubemos ter naufragado há muito tempo como na grandeza de um compositor que ficará na eternidade enquanto dela tivermos no Quase seria levado a dizer que em vez de um romance, ali coexistem vários romances. O amor está naturalmente presente numa curiosa história que transversalmente cruza as mais variadas situações. Mas onde estará o Futuro do Amor? E onde o Futuro se ele já é agora? Desse modo Joana convida-nos a procurar respostas que ela nunca teve a pretensão de dar. Mas a pouco e pouco e à medida que a acompanhamos nestas páginas dos seus Diálogos – que o são de facto não só entre as diversas personagens como sobretudo entre nós próprios e a autora – concluímos que é uma obra que merece o seu destaque neste nosso Amor Pelos Livros. Diálogos para o Fim do Mundo são de facto Diálogos para o nosso presente. Um presente que foi Ontem, é hoje mas também é já amanhã.

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RATINGS
50 Perguntas e Respostas

Eduardo Ferreira
Centro Atlântico

A vinda a público de notícias sobre a crise económica mundial e mais particularmente sobre as que afectam de modo individual os diversos países como é o caso de Portugal, fez aparecer com frequência através da Comunicação Social e nas diversas intervenções de membros do governo ou de representantes dos partidos o termo rating e indicações dadas por agências de rating. A situação do país era assim fornecida de um modo absolutamente novo para grande parte das pessoas. Não era o governo que o dizia. Ele também se baseava em tais números ou datas ou então negava que fossem verdadeiros e reais. O mesmo acontecia com as opiniões dos diversos comentadores. Alguns espíritos mais esclarecidos recordavam-se de ter ouvido o termo aplicado por exemplo a audiências televisivas ou limites para certas actividades ligadas ao consumo. Em traços largos sabiam que rating é a avaliação de alguma coisa em termos de qualidade, como por exemplo o lugar ocupado por um certo filme no universo dos que estão a ser exibidos num determinado período de tempo. Mas que isso ditasse as previsões para o crescimento ou diminuição de uma crise económica era de facto algo de novo. Qual a razão de todo o sistema financeiro mundial estar relacionado com os ratings indicados por agências especializadas. Mas para não darem sinal da sua ignorância, poucos se interrogavam sobre o seu real significado ou porque apareceram de repente. E afinal, o necessário era que alguém nos explicasse o que eram ou são de facto os famosos ratings, quem os avalia e como e porquê aparecem. Foi razão suficiente para chamarmos aqui a vossa atenção para este livro da Centro Atlântico onde Eduardo Ferreira, licenciado em Gestão e Administração Pública pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, com presença de jornalista em vários orgãos da Comunicação Social e de analista em organismos de gestão responde de forma sucinta e muito explícita a uma série de perguntas que afinal andamos muito a fazer nos últimos tempos: São 50 perguntas e as respectivas 50 respostas que nos são apresentadas, desde a simples explicação do que é um rating e quais as principais agências de rating até, entre outros pormenores, às metodologias aplicadas para classificações que terão – ou já estão a ter – um impacto significativo na vida de milhões de pessoas. Claro que podemos ter já a noção de que um rating é algo que uma entidade, organismo ou estado que se encontram numa posição de credores encomendam a uma agência especializada – ficamos a saber que são 3 as mais conceituadas – a fim de conhecer a situação financeira do seus devedores. Mas até que ponto é que isso pode ser fiel ou falível e influenciar a governação dos visados? Porque é que há quem defenda que o seu uso devia ser fortemente restringido e porque é que a Grécia foi forçada a assinar um acordo com o FMI e Portugal pode ser o alvo seguinte dos especuladores? Qual é afinal o valor da dívida portuguesa e qual será a evolução das suas taxas de juro? E depois de muitas mais perguntas e respostas, será que as agências de rating têm alguma utilidade ou poderíamos viver num mundo sem elas? Vamos conhecer alguns dos seus erros e de quem consegue afinal tirar vantagens dos valores ditados pelas agências. Será que é necessário dizer mais alguma coisa para ficarmos suficientemente esclarecidos? Claro que sim. Basta que aceitem o nosso convite para ler este livro sobre um tema mais do que actual e de que depende muito ou mesmo a quase totalidade do nosso futuro: Ratings – 50 Perguntas e 50 Respostas.

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OS FILÓSOFOS NO DIVÃ
Charles Pépin
Publicações Europa-América

Todos sabemos que as ideias por vezes defendidas por algumas pessoas nem sempre são coincidentes com as suas verdadeiras preocupações e com aquilo que na realidade sentem na sua mente. Claro que felizmente essa não é a regra geral e acontece sobretudo na política mas já se registaram até casos de individualidades das mais variadas áreas mesmo com escritores. O que passaram para o papel e ficou às vezes para a posteridade não coincidia com as suas reais convicções. Vá lá saber-se porquê! Mas será que quando se trata de filósofos, grandes nomes históricos cujas teses nos habituámos a respeitar, podendo ou não concordar com elas em todos os seus aspectos, cometeram igual pecado? Poder-se-á perguntar se tal seria concebível ou antes pelo contrário as suas teses filosóficas eram precisamente o produto das suas mais intrínsecas preocupações. E quando esses filósofos são nomes como Platão, Kant ou Sartre, a nossa curiosidade sobre as causas que os levaram a defender as suas teorias é ainda maior. Pois foi o que Charles Pépin, jovem escritor e professor agregado de Filosofia no Liceu do Estado da Legião de Honra de Saint-Denis e no Instituto de Estudos Políticos de Paris resolveu investigar baseado, conforme ele explica no seu livro “Os Filósofos no Divã”, num criterioso conjunto de fontes históricas, textos autobiográficos, cartas dos próprios filósofos, obras biográficas e até no caso de Sartre, de entrevistas. Charles Pepin afiança-nos que nada foi inventado. E assim imaginou um encontro ou melhor vários encontros desses três personagens estendidos num divã em casa de Freud. Junta-se assim a Psicanálise à Filosofia e assistimos ao processo do regresso às suas vivências passadas, aos seus afectos e contradições, desde a infância à execução das obras que nos deixaram. Só Freud de facto os poderia fazer revelar a verdade. E isso é tão importante como afinal poder compreender o legado das suas ideias. As teorias de Platão, Kant e Sartre aparecem-nos à luz de uma mais completa transparência e Pépin oferece-nos de facto um livro fascinante e maravilhoso que se lê com enorme agrado. O leitor encontra-se na posição de verdadeira testemunha dessa sucessão de entrevistas em que personagens tão célebres confessaram num divã as suas preocupações. E no desenrolar das situações que viveram e que perante nós - através de Freud claro ou através da análise de Charles Pépin – recordam e de algumas obsessões que por vezes os atingiram mais profundamente, acabamos por conhecer melhor o que eram tais celebridades como homens e como conduziram as suas vidas. Com esse aditivo não é de estranhar que assimilemos também melhor a profundidade das suas ideias que se consumaram nas suas teses filosóficas, desde o idealismo de Platão ao significado do dever para Kant e naturalmente às mais recentes teorias defendidas por Sartre num momento muito próximo de nós e que até muitos de nós chegámos a viver. Uma obra que se lê com um prazer inegável, razão mais do que suficiente para aqui figurar e deixar a todos o convite para acompanharem estas três grandes figuras no livro de Charles Pépin “Os Filósofos no Divã”.

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MITOS URBANOS E BOATOS
Susana André
A Esfera dos Livros

Muita gente se recorda do tempo em que se dizia que um boato nascido numa ponta da cidade de Lisboa levava 15 minutos a chegar ao limite oposto. Hoje em dia, algo que nasce em qualquer ponto do país estará dentro de muito poucos segundos algures na Austrália ou no Japão e naturalmente em qualquer ponto do globo. A velocidade a que uma história, por mais inverosímil que possa parecer, é difundida por todos os países apenas depende de uma ligação à Internet. É esse o grande veículo de comunicação do presente que nos traz a verdade mas também difunde a mentira. O modo como se propagam os boatos, através do correio electrónico, faz com que possam parecer verdadeiros de tal modo são inúmeros os testemunhos que vão chegando de todos o lado. “O boato fortaleceu-se com as novas tecnologias “ diz Miguel Sousa Tavares no prefácio ao livro da jornalista Susana André sobre Mitos Urbanos e Boatos.
O parentesco entre o Mito e o Boato
é algo de muito subtil, sendo que o mito pode subsistir durante mais tempo que o boato e tornar-se uma lenda que pode passar de geração em geração. Por vezes sofre uma ligeira adaptação às condições momentâneas mas a sua origem continua incerta a vaguear de boca em boca, algumas delas garantindo que os próprios donos viveram tais peripécias ou pelo menos conhecem muito de perto quem as viveu. Susana André reúne neste seu livro uma longa série de mitos e boatos que alguns de nós chegámos de certo modo a vivenciar e até por vezes a ajudar a difundir, tão convincentes e adaptados ao nosso tempo eles nos pareceram. Numa época em que todo o cuidado é pouco devido à falta de segurança de certos sectores onde nos deslocamos ou de produtos que usamos. Onde algo que se diz ser a última descoberta para resolver este ou aquele problema é mais tarde demonstrado falível, somos levados a acreditar em todo e qualquer alerta que nos chegue de repente ao conhecimento, quer por uma voz amiga ou uma comunicação electrónica de alguém que conhecemos e que se apressa a que esse mesmo alarme chegue o mais rapidamente possível aos seus amigos. Portanto a história de uma determinado produto químico que entra na preparação de uma pasta dentífrica poderia bem ser afinal um veneno perigoso. Alguém que anda em certo lugar da cidade a proceder a assaltos sistemáticos pode muito bem ser possível. Enfim, Vamos ter possibilidade de conhecer neste livro um grande número de “histórias”, algumas bem recentes, juntamente com a explicação encontrada pela autora para o seu aparecimento e, mais ainda, nos mitos em que se basearam e que já correram o mundo noutra forma e noutras épocas. Quem não se lembra da Guerra dos Mundos, o programa radiofónico com que Orson Welles lançou certo pânico em 1938 com os Marcianos a descerem em Nova York, depois o saudoso Matos Mais, 20 anos depois, através da Rádio Renascença e mais recentemente o boato de que teriam aparecido marcianos em Carcavelos. Este boato tinha as suas raízes nos dois acontecimentos anteriores, apesar de estes terem sido devidamente anunciados como teatro radiofónico. Já o caso da urina de rato nas latas de conserva ou o das agulhas infectadas pelo vírus da Sida nas cadeiras dos cinemas nasceram precisamente dos nossos receios actuais. Susana André explica-nos como nascem, porque nascem, como vivem e como morrem, no caso de chegarem a morrer, os boatos postos a circular à nossa volta. É uma análise e um estudo que a autora divide em vários sectores desde o sexo ou a morte até à arma política. É de facto uma obra curiosa e elucidativa que nos faz estar mais bem preparados para futuros boatos e repetições engenhosas de certos mitos urbanos.

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O CADERNO - 2
José Saramago
Editorial Caminho

Esta colectânea dos textos escritos por Saramago no seu blog entre Março e Novembro de 2009 mais uma vez confirmam o que já tinha dito em relação ao seu Caderno editado 1 ano antes com aqueles que marcaram o início da sua adesão à blogosfera em Setembro de 2008. Aliás ele transferiu precisamente para este suporte as crónicas, críticas e análises do quotidiano que tinha iniciado nos seus Cadernos de Lanzarote quando para ali se mudou na sequência da censura ao livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo para o Prémio Europeu da Literatura. Lembremos que ele próprio confessava então tratar-se de uma espécie de Diário que tinha prometido escrever num caderno de papel reciclado que para o efeito lhe tinha sido oferecido numa visita dos seus cunhados María e Javier. E assim foi de facto. O escritor passou a transmitir para o papel as suas preocupações, mesmo as mais íntimas, dando-nos a oportunidade para o conhecer ainda melhor, fora da grande criatividade dos seus romances mais que consagrados, todos eles conduzindo afinal ao desfecho evidente de alcançar em 1998 o Prémio Nobel da Literatura. Mas debruçando-me mais sobre este segundo Caderno, confesso ainda maior admiração que aquela que já sentia pelo Homem Saramago. Com uma simplicidade extraordinária, o grande escritor despe as suas mais características vestes literárias para com a mesma clareza de princípios humanísticos nos oferecer o teor das preocupações que afinal todos deveriam sentir nesta aldeia global em que estamos a passar os nossos dias. Acreditem os que eventualmente me estão a ler que desejo declarar com toda a humildade possível que eu próprio me senti desejoso de assinar por debaixo de cada um daqueles textos diários. Que me desculpem portanto a ousadia. Claro que muitos dos casos referidos e que foram primitivamente colocados no seu blog não poderiam estar no meu pensamento. O que pretendo dizer é que de tal modo me impressionaram que eu desejaria tê-los pensado e isso é quanto basta para sentir o enorme prazer de os descobrir nesta leitura de um Saramago, extremamente humano e totalmente longe daquela figura que tantas vezes é injustamente atacada. E isso principalmente porque ele tem a coragem de expor as suas ideias pouco concordantes com as dos seus inimigos políticos e religiosos. Claro que também aqui ele não deixa de as revelar com a mesma ou ainda maior honestidade com que sempre o faz. Também aqui se revolta contra a opressão, a tortura, a burguesia corrupta e a mesquinhez, as ditaduras de toda a espécie que pululam em várias partes do globo, enfim tudo aquilo que contraria os direitos do homem e a liberdade. E também aparecem as suas críticas a uma religião que não respeita ela própria aquilo que diz defender. Mas a força principal do Caderno de Saramago reside - e não me canso de o repetir - na grandeza dos princípios que defende e que Umberto Eco muito bem define no prefácio que escreveu para a edição italiana: “ eu diria que nestes breves escritos Saramago continua a fazer a experiência do mundo tal como ele é, para depois o rever a uma distância mais serena, sob a forma de moralidade poética (e às vezes pior do que é – embora pareça impossível ir mais longe)”“para não falar (e eis o retorno aos grandes temas da sua narrativa) de quando da análise do quotidiano salta para os grandes problemas metafísicos, para a realidade e a aparência, para a natureza da esperança, para como são as coisas quando não estamos a olhar para elas.” Que razões mais necessitaria eu para colocar o Caderno de Saramago no meu Amor Pelos Livros?

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MANÍACOS DE QUALIDADE
Joana Amaral Dias
A Esfera dos Livros

“Portugueses célebres na consulta com uma psicóloga” é o subtítulo deste livro que justifica de imediato o porquê de existirem maníacos de qualidade. Eles são então célebres e portanto é suposto neles existir qualquer espécie de qualidade, seja ela cultural, política ou social. Mas ao mesmo tempo neles existem ou melhor foram reconhecidos no seu tempo pequenos ou grandes distúrbios mentais, levando uma vida que muitos analisaram e apelidaram das mais diversas formas. Joana Amaral Dias, figura mediática bem conhecida, licenciada em Psicologia Clínica, docente e terapeuta familiar, com vastos conhecimentos adquiridos pela sua experiência e pela presença assídua nos areópagos da especialidade, resolveu debruçar-se sobre a vida de alguns portugueses que entraram em diversos ramos da nossa história. De todos eles, desde D.Afonso VI(dado como louco), Marquês de Pombal (um obsecado ou desequilibrado) ou a Rainha D. Maria I (considerada doida), mas também Fernando Pessoa (preocupado com a sua sanidade mental), Antero de Quental(que se suicidou) e João César Monteiro (o cineasta excêntrico), alguma coisa portanto sabíamos sobre o seu comportamento mais ou menos estranho. Menos conhecidos como portugueses célebres seriam Ângelo de Lima e António Gancho. Perante uma lista considerável de grandes vultos da nossa história com assinaláveis perturbações psíquicas ou como tal considerados e sentindo a necessidade de efectuar uma escolha que tivesse uma representatividade para a finalidade que se propunha neste seu livro, Joana Amaral Dias decidiu-se por dois critérios. Em primeiro lugar todos eles deveriam possuir “indícios fortes de grande sofrimento psíquico” mas o conjunto escolhido deveria também preencher a necessária “diversidade” que permitisse abranger um vasto leque de uma certa tipologia apelidada por uns de desvios de personalidade e por outros de verdadeira doença psíquica. A loucura é um tema recorrente na história da humanidade sendo até muito comum dizer-se que “de génio e de louco todo o mundo tem um pouco”. Seria natural portanto que figuras mais proeminentes ficassem também conhecidas pelos seus eventuais actos de uma certa loucura. E tudo isso seria igualmente uma classificação de terceiros. A investigação cuidada de Joana Amaral Dias vai mais longe e na impossibilidade de sentar num divã as personagens do livro baseia-se não só nos muitos documentos históricos mas também registos biográficos e mesmo auto-biográficos, diários, cartas, etc. É um trabalho muito honesto e tanto quanto possível correcto sobre a verdade do que foi dito e escrito mas sobretudo – e isso é importante – do que teria sido sentido pelos personagens que chamou para este livro. Em certos casos – e sempre que tal foi possível - eles aparecem mesmo num discurso directo quase parecendo que estamos a assistir a uma sessão de psicanálise. Quase nos permitimos dizer que a autora assim o entendeu de tal modo os vultos estudados nos aparecem nas páginas que oferece à nossa leitura. Nada foi ignorado - ou muito pouco - do que disseram terceiros, que pudesse ter importância para a análise feita. Digamos que esta obra se lê com a consciência de que ficamos mais conhecedores dos actuais conhecimentos sobre o que se passa no universo da mente humana apesar de Joana Amaral Dias nos afirmar que poderão existir alternativas às interpretações apresentadas. No entanto, quanto a nós, este estudo sobre alguns “Maníacos de Qualidade” que fazem parte da nossa História contribui firmemente para o nosso enriquecimento cultural. E por isso aconselhamos vivamente a sua leitura.

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A CRIAÇÃO
E.O. Wilson
Gradiva

É interessante encontrar um dos mais eminentes Biólogos da actualidade, defensor incontestável das teorias evolucionistas que defende com grande convicção a ideia de que elas não são na sua essência contrárias à existência de uma qualquer religião. Este facto não é muito vulgar, apesar de não constituir uma excepção à regra. Criacionistas e evolucionistas sempre se têm defrontado nos areópagos de várias conferências, parecendo irreconciliáveis as duas ideias. O Professor de Harvard, laureado com uma notável colecção de prémios e de distinções por todo o mundo científico, escreveu há já alguns anos um livro que então foi editado entre nós em que faz um apelo para salvar a vida na Terra. O livro voltou recentemente a ser falado, talvez motivado pelas recentes comemorações que assinalaram em todo o mundo a 1ª edição d’A Origem das Espécies de Charles Darwin e do bicentenário do seu nascimento. Wilson é naturalmente um darwinista e a sua intenção nesta obra, ao demonstrar a evidência da teoria da evolução, defende que não podem ser as fronteiras entre a religião e o ateísmo que podem obstar a que lado a lado não possam lutar ambos os seus seguidores pela conservação da biodiversidade neste planeta que é afinal o único que temos para viver. O livro é escrito numa espécie de conversa do autor com um pastor religioso. Em cada um dos capítulos, abordando temas e teses importantes para a explicação da existência da vida, desde a formação das primeiras moléculas até ao aparecimento do Homo Sapiens, ele principia sempre dirigindo-se ao seu convidado, o pastor católico, colocando-se igualmente ao seu lado e no seu oposto para concluir que alguns dos principais problemas com que a humanidade se debate nos dias de hoje poderiam ser resolvidos se fosse conseguida uma espécie de aliança, onde fossem respeitados os princípios básicos de cada uma das partes, mas lutando por um objectivo comum. A ciência e a religião podem conciliar-se nesta finalidade, mas a Criação de E. O. Wilson deve ser igualmente lida por todos aqueles que desejam aprofundar os seus conhecimentos sobre aspectos menos conhecidos da Biologia, como apareceram e se formaram as diversas espécies, as que desapareceram e as que estão em perigo de desaparecer, tudo enfim que nos pode levar a repensar ou confirmar a certeza de que algo pode e deve ser feito para salvar a vida na Terra. Segundo ele e com facilidade o demonstra, se eliminássemos todos as inúmeras espécies de insectos – e muitas desaparecem diariamente – seria o suficiente para que o resto da vida e da humanidade desaparecessem da face da Terra. Será que ainda pode existir alguém que duvide disso?

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ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Lewis Carroll
Publicações Europa América
101 Noites
De repente, algo aconteceu que fez com que esta estrela se acendesse. Estou a referir-me naturalmente à obra mais conhecida de Lewis Carroll. Foi como um conto de fadas.
Só que Alice no País das Maravilhas não é bem um conto de fadas e também não é a obra principal de Lewis Carroll, cuja vida teve aspectos talvez mais importantes embora de menor sucesso nas multidões. Conto para Crianças também é pouco, se assim o definirmos. Creio que é um conto que pode ser lido por crianças e adultos.
Mereceu aliás os elogios da rainha Vitória e de Oscar Wilde. O êxito estrondoso quando da sua publicação em 1865 iria sendo repetido em sucessivas edições, transposto para o cinema por Walt Disney e mais recentemente por Tim Burton. A história de Alice ao mundo maravilhoso está recheada de elementos e de curiosidades, através das mais diversas personagens transfiguradas em animais, que as crianças – mesmo as dos dias de hoje – muito apreciam. E é bom que vão criando esses laços de admiração pelo mundo animal, preparando-as talvez para melhor os protegerem numa época em que a sua protecção é cada vez mais necessária, de tal forma foram os abusos feitos pelo homem ao longo dos séculos. Há portanto razões mais do que suficientes para este livrinho, considerado erradamente como apenas “infantil”, figurar aqui no meu Amor pelos Livros.
E bem-haja este aparecimento de um livro da minha infância na edição adaptada para Audiolivro pela Editora 101 Noites e da obra integral impressa pela Publicações Europa-América na sua colecção de Clássicos juntamente com “Alice do Outro Lado do Espelho”(que podem consultar aqui), na sequência criada por Lewis Carroll. Tanto o audiolivro em 2 CDs, livro para ouvir num total de cerca de 2 horas, como o impresso para uma leitura normal, conforme o gosto ou a necessidade de cada um, são em dois modos diferentes, um regresso a um mundo de encantar. Cremos que foi por um feliz acaso que uma das personagens escolhidas por Lewis Carroll é o Dodó. Dodo, já desenhado como um pato de grandes dimensões, foi uma das aves, que o homem precisamente dizimou por completo durante as suas viagens ao extremo oriente, aproveitando a sua falta de agilidade e a enorme fonte de alimento, embora – relatam as crónicas – pouco apetitoso. Hoje apenas restam exemplares nas vitrinas dos Museus. Os diálogos são extraordinariamente bem conseguidos e exercem uma grande atracção, pelo seu conteúdo, ao mesmo tempo enternecedor e fantástico. E há muitas coisas para as crianças aprenderem como seja a transformação da Lagarta ou as lições de moral da Duquesa. Lê-los é esquecermos por momentos o que vai no mundo real que nos rodeia e isso faz-nos bem para descansar o espírito. Mas há mais coisas para se dizer da obra e do autor. Alice existiu realmente. Não teria vivido aquela história, claro, mas terá ouvido algo de muito parecido quando apenas com 3 anos de idade e durante um passeio com Charles Dodgson, o verdadeiro nome de Lewis, lhe pediu que lhe contasse uma história. Alice era uma das três filhas de um colega e grande amigo de Charles, em Oxford, onde ambos eram professores, chamado Henry Liddell. E dessa história nascida de improviso terá nascido a inspiração para o seu primeiro grande romance. Alice in Wonderland. A esse seguir-se-iam muitas outras obras. Mas Lewis Carroll ou Charles Dodgson foi um eminente matemático que se distinguiu na área da lógica e um fotógrafo reconhecido que se dedicou ao retrato de algumas celebridades de então, como é o caso de escritores, poetas, cientistas, professores, etc. Para além de obras sobre Geometria e Álgebra, foi sobre Lógica que Charles mais se tornou conhecido e por largo tempo protagonista de muita polémica, a tal ponto chegavam as suas conclusões ou deduções na matéria. Entre os diversos livros e textos académicos para estudantes e igualmente para os seus pares, veio a explorar os limites da lógica num texto publicado na revista Mind sobre o Paradoxo Carroll e intitulado “O que é que a Tartaruga diz a Aquiles”. Não vamos entrar em pormenores, o que acontece – e Lewis o demonstrou tal como o fizera anteriormente um filósofo grego – é que Aquiles nunca conseguiria ultrapassar a mais lenta das tartarugas desde que ela iniciasse a corrida antes dele. Para quem estiver interessado basta tentar procurar este assunto na Internet. Outro exemplo de Lewis: Qual dos relógios regista o tempo mais fielmente? Um que se atrasa um minuto por dia ou um que não funciona? Contrariamente ao que o nosso visitante poderá pensar, Lewis demonstra que é precisamente aquele que não funciona. E o facto é que tem mesmo razão. Muito da sua lógica está afinal inscrito no próprio livro de Alice. Mas tudo isto a propósito de deixar ficar bem claro que Lewis Carroll não foi só importante por este magnífico romance que a todos aconselhamos chamado “Alice no País das Maravilhas” que agora entra no meu Amor pelos Livros.

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O JACKPOT CÓSMICO
Paul Davies
Gradiva

Foi este exactamente o título que o autor escolheu no seu original em língua inglesa. Cremos que de qualquer modo s seus leitores, nomeadamente nos Estados Unidos e no Reino Unido, compreenderam, como nós aqui em Portugal o temos de aceitar, que se trata de algo de maravilhoso para o nosso bem estar possível neste Universo. O Cosmos oferece-nos um jackpot, Assim o saibamos compreender e aceitar, Paul Davies é um físico e cosmólogo conceituado internacionalmente, autor de variadíssimos artigos e livros de divulgação na sua área (alguns deles editados igualmente pela Gradiva) mas usando em todos eles um estilo muito claro para que todos facilmente entendam a complexidade que parece às vezes – e assim é de facto – existir nesta questão da descoberta do Cosmos. Ele vai mais além do que Sagan, sem dúvida este também com muito mérito, mas nos dias de hoje as mais recentes descobertas modificaram um pouco o que se pensava de certas etapas mais obscuras do nosso universo. E dizemos nosso porque para além deste Davies nos apresenta o conceito de multiverso pois se "alguma das leis ou constantes físicas que regem o universo tivessem um tudo-nada diferentes, a vida tal como a conhecemos seria impossível". O nosso universo é apenas afinal um de um número infinito de universos. E só estamos aqui e nos sentimos vivos porque recebemos um jackpot cósmico. Claro que isto levanta problemas sobretudo de carácter religioso para tudo o que é crença numa entidade sobrenatural. Mas Davies não pretende com isso exaltar a polémica e excitar os ânimos. A sua intenção - e consegue-o se o lermos atentamente – é explicar-nos o que as mais recentes descobertas nos trouxeram no domínio do conhecimento para que possamos usufruir deste planeta num universo único que curiosamente ao nascer de um big-bang já teria tudo muito bem organizado nas mais ínfimas partículas para que acontecesse a vida e “acontecessemos” nós. Michio Kaku, um dos mais eminentes e respeitados cientistas dos nossos dias, autor de numerosas obras essenciais para muitos estudantes das universidades, participando em programas televisivos e documentários de Ciência na BBC, disse a propósito deste livro de Paul Davies que se tratava de algo verdadeiramente hipnótico. Lê-se como um romance policial. Impossível parar de virar as páginas. E porque sinto exactamente o mesmo, tal é a clareza e o entusiasmo com que o autor nos explica o encantamento que o leva a concluir que o nosso universo é mesmo bom para a vida é que aqui o deixo ao dispor dos visitantes no meu Amor pelos Livros. De facto todos nós ganhámos um Jackpot cósmico. E eu juntaria, dadas as minhas mais que conhecidas ideias de defesa do ambiente, que vale mesmo a pena não estragar mais – e já o fizemos demasiado por largo tempo – o único planeta que temos para viver e deixar às futuras gerações.

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O CLUBE DA HIPOTENUSA
Claudi Alsina
Planeta

Este Clube da Hipotenusa é mais um livro de Matemática que nos entra pela porta do Amor pelos Livros. E alguns daqueles que aqui regularmente nos lêem pensarão que deve existir uma razão para que eu sinta uma certa inclinação para gostar de livros de Matemática. Se por um lado esse gosto existe, devo confessar que nem eu próprio compreendo a verdadeira razão. A minha formação académica não tem muito a ver com a matemática apesar de hoje se saber – e é verdade – que tudo ou quase tudo tem a ver com ela. Sem a matemática como poderia avançar a ciência? Como seria possível estarmos a percorrer estas auto-estradas da informação? Para tudo afinal existe uma equação que explica os mais diversos fenómenos. E depois existe sobretudo a questão dos números. Mas pessoalmente esta forte inclinação, tanto quanto me lembro, talvez seja explicada por ter sido dos poucos alunos da antiga Politécnica (Faculdade de Ciências de então) que conseguiu ter um 16 na cadeira de Álgebra Superior com o temível e exigente Vicente Gonçalves. Mas entremos então no Clube da Hipotenusa onde o catedrático de Matemática da Universidade da Catalunha nos apresenta “um divertido passeio pela história da matemática através das suas anedotas mais hilariantes”. Claro que umas serão mais hilariantes do que outras, algumas serão meras curiosidades pois nem todas de facto fazem rir mas o certo é adquirirmos conhecimento. Nem tudo aconteceu como pensávamos. Os grandes matemáticos tinham naturalmente as suas fraquezas e algumas não eram assim muito aceitáveis em termos de princípios morais. Mas enfim, os grandes matemáticos eram também homens como quaisquer outros. E não é isso que os fará cair do pedestal. Descem apenas alguns degraus. A propósito sabe quais são os livros que mais se vendem no mundo? Acredito que vai responder: os romances. Pois está enganado. São os livros de Matemática. Bom, mas também fica a saber que antes dos Maias terem “descoberto” Colombo e tudo o mais que o navegador lhes quis mostrar, já 2.000 anos antes os maias iam desenvolvendo um sistema avançado de numeração, de calendário e de cálculo astronómico. Mas entre muitas mais coisas ficará a saber se Arquimedes costumava de facto usar a banheira. Quais as matemáticas aplicáveis às relações sexuais? Porque razão os números foram anteriores às letras? Dois grandes matemáticos resolveram o mesmo problema sem terem notícia um do outro. A qual deles atribuir a descoberta? Enfim, como diz o autor, o Clube da Hipotenusa colocado no meu Amor pelos Livros pode contribuir para romper o tabu das matemáticas antipáticas e apresentar a sua face amável e humana. Divirta-se a lê-lo.

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MEMÓRIAS VIVAS DO JORNALISMO
Fernando Correia & Carla Baptista
Ed.Caminho

Do amor à profissão ao Amor pelos Livros, é perfeitamente lógico que este livro teria que merecer aqui um destaque especial. E não sei bem o que mais admirar. Por um lado, temos a criteriosa escolha que foi feita pelos autores para ouvir as memórias de jornalistas que já vêm de época recuada, concretizando nestas "Memórias Vivas do Jornalismo" um velho sonho de realizar uma antologia com os entrevistados possíveis e nem sempre obedecendo – como eles próprios confessam na Introdução - a uma estrutura de certo modo cronológica, partindo por exemplo de como acontecia o acesso à profissão, sem que existissem escolas de jornalismo, e depois saltando para descrições de episódios vividos pelos jornalistas, relacionando a sua vida privada com a profissional e com o clima que preenchia o ambiente de trabalho e o da vida política e económica do país. Por outro lado temos as várias descrições feitas por grandes nomes do jornalismo português como, sem desprimor para os não citados, Acácio Barradas, Edite Soeiro, José Carlos Vasconcelos, Manuela de Azevedo, Mário Ventura Henriques, Pedro Foyos ou Urbano Tavares Rodrigues. As relações com as chefias, a escolha das notícias, o envio delas pelos órgãos estatais, as declarações dos políticos, os castigos, a censura ou as tarefas atribuídas às diversas categorias profissionais e ao modo como se ascendia na carreira, tudo isso reflecte um manancial informativo da forma como era feita a comunicação impressa e radiofónica ou televisiva. Da caneta com aparo à máquina de escrever foi um caminho repleto de curiosidades pois ao mesmo tempo que representava a evolução pareceu-nos a nós, que também o vivemos e agora recordámos, representar igualmente um certo tipo imposto de estagnação que alguns jornalistas tentavam a todo o custo vencer. Mas … e é isso que convidamos na leitura desta obra … há muito mais a descobrir ou recordar.
Não querendo comparar-me, em termos de notoriedade ou de importância no jornalismo, aos colegas entrevistados e que com isso deram o seu valioso contributo a este livro, resolvi deixar aqui um episódio dos muitos que vivi na então Emissora Nacional. Entrei para a Estação Oficial devido a um artifício do meu nome oficial que ao tempo não incluía Montalverne como apelido o que só veio a acontecer tempos depois de já lá estar. Mas isso é outra história que já foi contada em várias ocasiões. Não se trata de o ter adoptado mas precisamente porque é essa a família que me criou desde os 2 meses mas tendo sido registado pelos P. biológicos com outros apelidos que eram de facto os oficiais. Desse modo a Polícia política não detectou na minha entrada para a E.N. que eu era o jovem Montalverne procurado pela PIDE nos tempos do Liceu e da Faculdade (em que o usava em listas da oposição ao regime). Também aí não me detectavam como pouco inteligentes que eram. Um dos dois nomes próprios era igual. Mas não havia computadores. Como já se adivinhou toda a minha família real (não biológica) - e eu desde muito novo - pertencíamos à oposição. E haveria de ir parar à estação oficial pelo gosto que tinha pela Rádio. Lá também tínhamos um grupo que reunia às escondidas, altas horas num estúdio. Mas afastei-me do episódio, apesar de ser necessário, para o entender melhor, explicar as ideias que defendia. Liberdade, defesa dos direitos humanos, Paz e igualdade para todos…e tudo o resto que era a luta contra o ditador e os seus sequazes. E afinal onde eu tinha ido parar! No meu carrito, que tinha conseguido comprar em segunda mão, colocara um dia a meio do vidro traseiro, um autocolante bem visível com o conhecido símbolo criado por Bertrand Russel e as palavras “Fate l’Amore non la Guerra”, que ainda hoje, velhinho, conservo.

Poucos dias depois fui chamado pelo Director de Programas, cujo nome não importa revelar, mas que era totalmente afecto ao regime salazarista. Avisou-me então de que aquele autocolante no meu carro não lhe parecia muito indicado para um funcionário da EN e que poderia vir a ter alguns dissabores por isso mesmo. Respondi que não, não era nada do que ele pensava, Eu apenas preferia o amor à guerra, nem sabia quem era Bertrand Russel e achara piada ao autocolante. E resolvi não o retirar. Passadas algumas semanas, fui novamente chamado. Dessa vez, o aviso foi de tal modo insidioso sobre o que me poderia vir a acontecer que, ao voltar a casa e pensando no meu futuro e no da família, arranquei o autocolante que ainda hoje conservo. Este foi apenas um dos muitos sapos que tive de engolir naquela casa até ao dia 25 de Abril. Ainda havia de passar pelo episódio do enterro do Ditador para o qual levava apenas umas palavrinhas escritas muito bem pensadas e simples, quando de repente ao terminar o texto, o assistente me diz que tinha de continuar porque o caixão parara à porta onde eu estava. Havia que dizer mais alguma coisa dali. De improviso, escorreguei nas palavras, lentamente para ganhar tempo, descrevi o que ia vendo e falei nas criancinhas (que tinham sido postas, claro) à volta do caixão e “que ele tanto amava”, etc. etc. Imaginem! Que ele tanto amava. Como se ele amasse alguma coisa que não fosse as suas, tão faladas hoje em dia conquistas amorosas. E assim, por essas exactas palavras, que os militares foram detectar na gravação feita e apesar de toda a comissão de trabalhadores e outros testemunhos apresentados demonstrarem a minha maneira de pensar, ainda fui suspenso 8 dias, para dar o exemplo (foi a razão apresentada) e poder castigar outros que de facto eram afectos ao regime. Coisas da história deste simples jornalista que apenas se conseguia aguentar naquela casa por ser essencialmente escolhido para tratar temas de Ambiente, Natureza, Ciência e pouco mais.
Mas neste livro vão encontrar histórias muito mais interessantes do que esta e que demonstram a verdade de como era feito o Jornalismo nos anos 60, década que os autores escolheram pela importância social, política e económica desse período para o nosso país. E no caso do jornalismo um clima profissional com características únicas.

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EFEMÉRIDES ROMÂNTICAS
António Cartaxo
Ed. Caminho

António Cartaxo é uma voz inconfundível na Radiodifusão Portuguesa. Quando o ouvimos, temos de parar seja o que for que estamos a fazer para escutar a "sua" música, a música que as suas palavras introduzem e nos dão de seguida. No seu livro Efemérides Românticas ele reúne agora a vida e a obra artística de seis compositores cujas datas de nascimento ou morte são recordadas entre 2009 e 2011. António Cartaxo é um homem do Amor. Tudo o que tem feito e faz na sua vida é feito com Amor. Estivemos com ele durante largos anos enquanto andavavamos os dois na RDP. E por esse tempo e quando eventualmente nos encontramos hoje, a sua expressão envolvida naquela farta cabeleira que sempre usou, não respira senão amizade leal e sincera. O seu mundo é assim. Que outra coisa poderia acontecer senão ter reunido em livro seis histórias românticas ligadas à música? Albéniz, Mendelssohn, Chopin, Schumann, Liszt e Mahler aparecem-nos na escrita excelente do autor como se estivéssemos lado a lado com eles, vivendo os seus momentos de glória ou de sofrimento, as suas aventuras e desventuras e como é natural o lado intensamente romântico da sua obra, no expoente do período romântico, para alguns deles acompanhado igualmente do romantismo na sua vida privada, sobretudo em Chopin mas também Schumann ou Mahler. Ao lermos este livro notável de António Cartaxo e através da forma como nos apresenta a descrição dos momentos mais importantes da vida dos compositores que escolheu – ou não escolheu porque na verdade eles obedecem a um factor comum – é quase possível, para aqueles que já ouviram as suas obras musicais, como que escutá-las em fundo de mistura com as suas palavras de uma textura cuidada mas fácil. A escrita é fluida e harmoniosa como se estivesse inscrita numa pauta musical. As descrições precisas e preciosas encantam o leitor, fazendo-nos esquecer o tempo que passa. Acompanhamos assim o autor, o músico e a maior parte da obra que nos deixou e que ficará para sempre na História da Música. Estamos de facto “Em sintonia com António Cartaxo” tal como no programa que mantém com esse nome na Antena 2. E que o faça por muitos anos são os nossos desejos. Certamente que tem cativado muita gente que sem ele andaria arredada da felicidade que se tem ao ouvir um bom concerto e as grandes músicas que para sempre serão ouvidas enquanto o Homem habitar este planeta. “Efemérides Românticas” merece assim por todas as razões um lugar de destaque no nosso Amor pelos Livros.

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O SOLISTA
Steve Lopez
Estrela Polar

Já na década de sessenta, quando pela primeira vez visitei Nova Iorque, eu ficara espantado por notar que em algumas das ruas não muito afastadas do centro da cidade também existiam pedintes e mesmo alguns dos chamados “sem abrigo”, tal como no nosso país. Tempos depois, o mesmo iria notar em Londres e noutras grandes capitais dos países considerados ricos. Afinal a riqueza por essas bandas também não era bem distribuída. Vi os “sem abrigo” em Munich e em Berlim, aproveitando as entradas de certos edifícios fechados durante a noite, para ali dormitarem envolvidos em cartonagens. Um jornalista do Los Angeles Times começa por encontrar um motivo para as suas crónicas no Jornal ao cruzar-se à entrada de um túnel movimentado com um estranho músico que soltava de um violino apenas com duas cordas algumas melodias de grandes compositores. Uma pergunta e uma resposta algo desconexa levam-no a pouco e pouco a querer saber mais sobre a vida de um músico (que o era mesmo, ele não tinha já dúvidas disso) vivendo nas ruas agarrado ao seu violino tendo junto dele um carrinho atafulhado de uns velhos cobertores, estranhas caixas e outras velharias. Steve Lopez, o jornalista, alimenta as suas crónicas com as conversas com Nathaniel Ayers. Não era por acaso que ali próximo se erguia uma estátua de Beethoven. Há cerca de 30 anos, Ayers era um aluno de excelência numa das mais prestigiadas academias de Música, um jovem encantador que tocara em pequenos cafés musicais até que fora apanhado por um esgotamento mental. Agora está sozinho e é imensamente desconfiado. Mas Steve Lopez insiste e pergunta após pergunta, em breve começa a nascer entre os dois, apesar da desconfiança de Nathaniel, uma intensa amizade que nos fará compreender o poder redentor da música e a complexidade dos sentimentos quando entram em choque com realidades quase incontornáveis. Desse encontro verdadeiro, na tumultuosa Los Angeles, nasce pela escrita cuidada de Steve Lopez um romance que nos emociona e nos relembra os valores da verdadeira solidariedade que tantas vezes falta no mundo actual. Lopez lutará para que Nathaniel retome o rumo que um dia perdera. Mas será que ele necessita disso? Há momentos dolorosos e de desânimo. A história do sem abrigo que até tinha um curso tirado na célebre Julliard aparece-nos como algo do que não devia acontecer mas que pela força da amizade de quem foi atingido pelos sons de um violino de duas cordas ou talvez, quem sabe, por uns olhos estranhos que contemplavam um vazio, se transforma num hino maravilhoso que consegue enaltecer a verdadeira essência do humanismo. O amor tem as mais diversas facetas e formas de se exprimir. São também histórias de amor como esta que nos são trazidas pelos livros que não podemos nem devemos esquecer. Esta história demonstra-nos que a verdadeira amizade consegue mover montanhas. E por isso ela aqui está.

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A ORIGEM DAS ESPÉCIES de Charles Darwin
Janet Browne
Gradiva

É perfeitamente natural que deixe aqui este livro de Janet Browne, considerada pela crítica a melhor biógrafa de Charles Darwin e que neste seu último livro sobre ele consegue explicar-nos de uma maneira límpida e sugestiva por que razão é que A ORIGEM DAS ESPÉCIES pode ser considerado o livro de ciência mais importante de tudo o que foi escrito até agora. Professora de História da Ciência na Universidade de Harvard publicou a biografia de Darwin em dois volumes que foram distinguidos com vários prémios literários e é considerada uma das principais figuras mundiais na História da Biologia. Darwinista por natureza que estudou até às mais ínfimas particularidades o que foi a vida de Darwin, os seus estudos, as suas viagens, as suas descobertas, a sua luta pelo estabelecimento de uma ordem universal para os problemas da evolução, incluindo a do próprio Homem; conhecedora de todos os aspectos da sua vida particular e familiar, dos contactos havidos com outros biólogos da época que com ele concordavam ou discordavam e de toda a polémica que as suas teorias provocaram em certos meios científicos mais conservadores, Janet Browne estava de facto preparada para ser a pessoa indicada para nos descrever a importância que foi para a Humanidade o lançamento d’A Origem das Espécies. Analisando detalhadamente todo o desenvolvimento das teorias evolucionistas de Darwin, ela consegue de facto explicar-nos as razões pelas quais ainda hoje são negadas por uma parte do mundo científico-cultural. Mas com as pesquisas que efectuou a todas as polémicas que foram acontecendo e confrontando-as com as principais fontes dos trabalhos efectuados por Darwin, Janet Browne não nos deixa lugar para dúvidas. E o que é de salientar ainda é a forma incrivelmente eficiente e clara como ela consegue fazer-nos entender porque é que esta obra de Darwin teve a importância de ter aberto ao mundo explicações simples para o que até aí parecia inexplicável. Com os conhecimentos que hoje existem, muitos dos quais na sequência de algo que Darwin já nos teria dado a conhecer com as suas cuidadosas e quase obsessivas observações no seio da Natureza, ser-nos-ia fácil – ou talvez não – chegar às mesmas conclusões. Mas é incontestável que na época em que Darwin viveu, o seu trabalho e as conclusões que haveriam de revolucionar muito do pensamento científico existente foram um facto importantíssimo para o verdadeiro conhecimento das leis naturais. E Janet Browne consegue explicar-nos como e porquê. Tal como afirmava o crítico Adam Sisman do Daily Telegraph “... é o mais perto que podemos chegar da mente de Darwin”. De facto nenhum livro até hoje contribuiu de modo tão claro e eficiente para a compreensão do seu verdadeiro significado.

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DARWIN SEMPRE
A ORIGEM DAS ESPÉCIES
No ano que recentemente terminou em que se comemoraram os 200 anos do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação da primeira versão do seu livro “A Origem das Espécies”, realizaram-se por todo o mundo exposições, conferências, debates, artigos nas mais prestigiadas revistas, científicas ou não e a edição de novos livros sobre Darwin e a sua importância na história da Evolução e das Origens. Sem dúvida que “A Origem das Espécies” foi a sua obra mais polémica, até porque Darwin nas 6 edições que foram publicadas durante a sua vida estava constantemente a fazer correcções e alterações. Isso significava que a sua mente prodigiosa não se cansava de continuar um estudo que considerava importantíssimo sobre a evolução de todos os seres vivos. Apesar da primeira edição de 3.000 exemplares se ter esgotado no dia da sua publicação em Novembro de 1859, houve quem o louvasse e quem o odiasse de tal modo eram polémicas as suas ideias sobre o modo como evoluíam espécies e nomeadamente sobre a Origem do Homem, outra obra que publicaria depois e que se opunha globalmente às doutrinas divinas da criação, demonstrando que todos os mamíferos descendiam de um antepassado comum, possivelmente um pequeno roedor, dele se originando um ramo de primatas, onde um dos sub-ramos teria dado origem aos nossos antepassados. A nossa ideia em só agora colocar aqui algumas referências às edições mais significativas é precisamente a de afirmar que apesar de algumas novas interpretações, sobretudo no caso das descobertas em genética que vieram dar uma nova luz aos mistérios da evolução, defendemos que “Darwin ... Sempre”.



Em Portugal, foram duas as novas edições d’A Origem das Espécies, a primeira da Europa-América, aproveitando a passagem do seu 60º aniversário, numa tradução de Dora Batista e em Novembro a do Círculo de Leitores da responsabilidade de Vítor Guerreiro. De qualquer modo, ambas respeitam a essência fundamental da última edição revista por Darwin.
Trata-se de uma obra que não devemos deixar de ler e sobre ela meditar, embora à luz de modernas descobertas científicas. É que o seu trabalho foi de tal modo importante e resultado de um esforço e investigação nesta matéria, tão raros naquele tempo, que continua a ser uma lição e um rumo para quem pretenda conhecer o caminho que as espécies percorreram até alcançarem o que são hoje e sobretudo longe da ideia cri accionista de terem sido obras de uma qualquer divindade.
Tendo-se formado em Medicina e Teologia, parte com 22 anos a bordo do Beagle, uma pequena embarcação da época, para fazer companhia ao capitão Fitzroy, fugindo de certo modo à vida clerical que seu Pai lhe havia destinado. Durante 5 anos percorreu os cinco continentes e nas diversas expedições em terra não se cansava de anotar observações nos seus papéis e recolher numerosas amostras de animais e plantas que enviava para sua casa ou para biólogos e geólogos que conhecia. Tudo o fascinava e questionava-se sobre a enorme diversidade de espécies vivas que em muitos casos e em locais diferentes apareciam com certo número de variações. Ficou célebre a passagem pelas Ilhas Galápagos onde notou precisamente essa variedade de uma ou outra espécie, entre uma e outra ilha, apesar de apenas separadas por um manto de água. Por que razão aconteceria tal facto? É tudo isso que mais tarde irá resolver no seu regresso à casa de campo transformada em Laboratório. Numa admirável dedicação ao desvendar dos segredos da Natureza e do Homem, é aí que começa a reunir todos os seus apontamentos que viriam a dar origem a todas as suas obras.


Reproduzimos também aqui, como curiosidade, a capa do exemplar raro que possuímos da primeira edição em língua portuguesa d’A ORIGEM DAS ESPÉCIES, datada de 1913, pela Livraria Chardron de Lelo & Irmão.
Janet Browne, principal biógrafa de Charles Darwin, demonstra no seu mais recente livro, já traduzido para português, editado pela Gradiva (A Origem das Espécies de Charles Darwin) porque é que a Origem das Espécies pode ser considerado o maior livro de ciência alguma vez publicado.
“O mais humilde dos organismos é algo de mais elevado que a poeira inorgânica a nossos pés. E não há ninguém com espírito sem preconceitos que consiga estudar qualquer criatura viva, por mais humilde que seja, sem se deixar entusiasmar pela sua maravilhosa estrutura e propriedades”, escreveu Darwin.

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O PARADOXO DA SABEDORIA
Elkhonon Goldberg
Publicações Europa-América

“Como pode a sua mente ficar mais forte à medida que o seu cérebro envelhece”. É assim que o autor apresenta esta sua obra. Professor de Neurologia da Faculdade de Medicina de Nova Iorque e investigador na área da neurociência cognitiva, ele revela-nos com clareza os seus estudos e os de outras figuras eminentes, onde destaca por exemplo o português António Damásio. Num grande número de pessoas existe a ideia de que o nosso cérebro vai perdendo capacidades à medida que envelhecemos. Os estudos actuais concluem que, exceptuando causas de origem fisiológica relacionadas com as chamadas doenças da terceira idade, não existem razões para que tal aconteça. E que as células responsáveis pelo bom funcionamento do cérebro continuam a reproduzir-se e a dar origem a novas células. Também é comum ouvirmos dizer que as pessoas de idade não possuem mais sabedoria e o que as diferencia dos mais novos é apenas o acumular de muitas experiências vividas. Claro que esta última particularidade é de facto importante mas isso não quer dizer que a sua sabedoria resida unicamente aí. Ao contrário do que é normal na maior parte das pessoas que consideram que ao envelhecer a vida deixou de ser uma batalha como era no passado e se tornou em algo de mais calmo e sossegado, quase digamos uma espécie de estagnação, o autor – e ele próprio vive essa experiência – acha que a vida deve continuar a ser uma festa que se tornará mais intensa à medida que a idade avance. E é este segundo Elkhonon Goldberg o paradoxo existencial do envelhecimento. Podemos ficar assombrados com os efeitos do envelhecimento mas ainda assim há que seguir o impulso que nos leve a prolongar a festa. O livro cita é claro vários exemplos de casos de personalidades conhecidas nas quais foram evidentes os declínios neurológicos mas não deixa de nos citar igualmente que a par de certas perdas cognitivas as pessoas idosas podem tomar decisões mais intuitivas e são numerosos os casos de grandes líderes ou de artistas que atingiram precisamente o sucesso numa fase adiantada da sua vida. Sem ser propriamente um manual de instruções para conservar uma mente saudável quando se aproxima o envelhecimento, o livro fornece-nos algumas indicações úteis para travar os seus efeitos.

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