Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne

UMA ESPERANÇA MAIS FORTE
DO QUE O MAR

Melissa Fleming


Este livro é um verdadeiro livro de amor, apesar de relatar uma tragédia e sobrevivência de uma refugiada. Se alguém perguntar como pode ser um livro de amor, basta dizer que essa refugiada antes de iniciar a viagem para fugir da Síria teve momentos com provas de grande amor quer pelo seu país martirizado como pelos seus familiares. Já também depois de iniciada a viagem encontrou um homem pelo qual se apaixonou e que viria a auxiliá-la para poderem continuar a fuga, embora algo de muito dramático tenha acontecido até chegar ao primeiro país da Europa que a levaria finalmente ao destino ambicioso de alcançar a Suécia onde reside actualmente, depois de ter perdido tudo e todos.
A autora Melissa Flemming é Directora de Comunicação e a porta-voz do Alto Comissariado das Nações unidas para os Refugiados e teve conhecimento da história da refugiada através do website grego. Sempre atenta a relatos de sobrevivência que demonstrem o drama dos refugiados e que possam transmitir ao público que apenas conhecem as notícias dos jornais, embora também estas elucidativas, a necessária empatia para que todos possamos contribuir com qualquer parcela de auxílio que esteja ao nosso alcance para acabar com o drama dos refugiados, Melissa procurou pelos meios ao seu alcance conhecer a refugiada Doaa quando ainda se encontrava em recuperação num hospital em Atenas. Na posse de diversos artigos, fotografias e relatos entretanto publicados na imprensa ateniense e não só, o livro dá-nos a conhecer a verdadeira história de Doaa que conseguiu, apesar de momentos de grande sofrimento ao relembrar factos passados e alguns deles muito recentes como a do naufrágio em que conseguiu resistir até ser recolhida pelos tripulantes de petroleiro que navegava no Mediterrâneo em direcção a Gibraltar que ficaram surpreendidos com a enormidade de cadáveres a boiar à superfície mas também o que lhes parecia serem os gritos de socorro que alguém gritava mais alem. Era Doaa pedindo socorro para duas meninas que segurava nos braços enquanto se agarrava à pequena bóia de que dispunha.
Neste livro que António Guterres classifica como de “Um livro admirável de uma autora que não o é menos”, é contada toda a história de Doaa desde a sua infância feliz na Síria quando este país ainda era um lugar pacífico até à actualidade, e devemos salientar que em 2016 Doaa Al Zamel recebeu o prémio OFID 2016 para o Desenvolvimento, atribuído pela OPEP, pela sua coragem e determinação. Tal como ela própria declara em “Nota de Doaa” no final do livro, “partilhou nele o seu sofrimento”. Trata-se apenas de uma pequena amostra das provações e da dor que os refugiados espalhados pelo mundo têm se suportar e de enfrentar. Sou apenas uma voz entre os milhões que, todos os dias, arriscam a vida para conseguir viver com dignidade.” E é isto na verdade o que podemos ler neste livro, juntando-lhe os episódios trágicos de alguém que apenas deseja encontrar um lugar onde fosse possível viver em paz, onde as crianças não morressem de fome ou por balas indiscriminadamente disparadas pelos grupos terroristas. E também as falsas promessas, pagas a peso de ouro com todas as suas economias, para conseguirem um lugar numa frágil embarcação que depois os traficantes desumanos e criminosos abandonam a meio do mar, sem combustível para alcançar terra firme, muitas vezes acabando mesmo por naufragar. Dir-se-á que todos sabemos desta tragédia dos refugiados, que nos revolta e lamentamos. Mas aqui, neste livro, temos um rosto que vamos acompanhando, uma história que parece decorrer a nosso lado, um exemplo bem real de todos os milhares de refugiados aos quais acontecerá algo semelhante que enchem os noticiários e os artigos dos jornais. Sim sabemos que alguns refugiados alcançam as praias do sul da Europa e vão ficando em acampamentos, deficientemente alojados, até que possam arranjar a desejada licença para alcançar um país que os receba, nomeadamente o nosso. Mas o que encontramos neste livro é toda a história da luta pela sobrevivência de uma refugiada, contada por uma admirável escritora. Ficamos mais conscientes do que é o drama dos refugiados. E isso é importante.

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